Bruna Longo, Camila dos Anjos e Erica Montanheiro põem online solos em projeto de valorização de autoras femininas

Publicado por Bruno Cavalcanti
24 de junho de 2021

Em 2019, as atrizes, diretoras, dramaturgas e produtoras Bruna Longo, Camila dos Anjos e Erica Montanheiro entraram em cena em momentos e espaços distintos em projetos que visavam a pesquisa, análise e valorização das figuras de artistas femininas silenciadas ao longo de sua vida.

Longo traçou fricções entre a vida da inglesa Mary Shelley (1797-1851) e Frankenstein ou o Prometeu Moderno (1817), sua obra mais famosa, e que, à época de seu lançamento, lhe foi usurpada por questões sociais que não permitiam que mulheres assinassem romances para além dos estilos pré-definidos pela intelligenza cultural. Em Criatura – Uma Autópsia, a artista traça paralelos entre a história do romance e a vida da autora. A obra cumpriu bem sucedidas temporadas ao longo de 2019 em São Paulo.

Já Erica Montanheiro se debruçou sobre a vida da escultora francesa Camille Claudel (1864-1943), desacreditada e internada em um manicômio após se voltar contra os paradigmas sociais que a diminuiram aos rótulos de irmã do escritor Paul Claudel (1868-1955), ou amante do escultor Auguste Rodin (1840-1917). A artista destruiu parte de sua própria obra e nunca conseguiu deixar o setor manicomial.

Montanheiro investigou a obra e a vida da artista em Inventário, solo dirigido por Eric Lenate e que compôs a programação da (excelente) mostra Balada dos Enclausurados, em 2019, no Teatro do Núcleo Experimental, em São Paulo.

Por fim, Camila dos Anjos mergulhou em suas próprias memórias para recontar sua história em Quebra Cabeça, solo dirigido pela atriz com a orientação de encenação de Nelson Baskerville. Em cena, dos Anjos expõe as lembranças e sentimentos de diminuição que passou ao longo da carreira ao se sentir nada, senão uma atriz sem voz ativa. O solo expõe os caminhos traçados pela artista para tomar as rédeas da própria história e o desenvolvimento de uma linguagem artística própria.

Agora, as três obras ganham o universo online através de Anônimo Muitas Vezes foi Mulher, projeto idealizado por Longo e que reúne as três obras em transmissões realizadas através das redes oficiais de quatro teatros distintos da capital paulista. O título do projeto remete ao período pré-Renascimento, quando o crédito de autoria das obras publicadas era considerado irrelevante.

A temporada de Anônimo Muitas Vezes foi Mulher tem início no dia 02 de julho em temporada gratuita que se estende até o dia 19 de setembro com sessões às 21h (sextas e sábados) e às 19h (domingos). O projeto transmite ao vivo o registro dos espetáculos feitos no palco do Espaço da Cia de Revista, em São Paulo, gravado pela Bruta Flor Filmes, formada apenas por profissionais femininas do audiovisual.

Além das sessões, o projeto contempla ainda duas mesas de debates ministradas pela cientista social especialista em sociologia de gênero, estudos feministas e lazer urbano prof. Dra. Carla Cristina Garcia (Anônimo Muitas Vezes foi Mulher: Autorias Suprimidas), e pela atriz, diretora, dramaturga e pesquisadora vencedora do Prêmio Shell Janaína Leite (Espetáculos Solo: Resistência Artística e Território Autoral). As datas ainda não foram confirmadas.

As atrizes criadoras Bruna Longo, Camila dos Anjos e Erica Montanheiro também ministram oficina gratuita voltadas para atrizes profissionais e estudantes de teatro com a temática Provocações para a criação de Espetáculos Solos Autorais Feitos por Mulheres. Ainda não há data para as aulas a serem realizadas em parceria com a Oficina Cultural Oswald de Andrade, em São Paulo.

Confira abaixo a programação completa do projeto Anônimo Muitas Vezes foi Mulher:

TEATRO CACILDA BECKER

CRIATURA, UMA AUTÓPSIA

DIAS: 02, 03 e 04 de julho de 2021