Ator Mente peca pelo excesso, mas triunfa no jogo cênico de Rizzo e Marinho

Ator Mente | Foto: Heloísa Bortz

Comédia encenada e adaptada por Marco Antônio Pâmio, Ator Mente reúne três peças curtas do dramaturgo inglês Steven Berkoff, autor do sucesso Vilões de Shakespeare, encenado por Marcelo Serrado entre 2017 e 2018. Tomando como ponto de partida a carreira do ator, Pâmio adaptou três textos que mostram as dificuldades de um velho ator, Brian (interpretado por Norival Rizzo), na busca por um agente e na relação conjugal com sua esposa, Barbara (Noemi Marinho).

Ao lado do colega Bruce (Josemir Kowalick), Brian fala das agruras da profissão e encena uma comédia ácida sobre a relação de católicos e judeus denunciando um antissemitismo ainda presente na sociedade contemporânea, antes de chegar em casa e se deparar com a desesperança e o descrédito de sua esposa, Barbara, que o incentiva a buscar outro emprego.

Ao longo de mais de uma hora e meia, Ator Mente destila uma fina ironia sobre o mercado do entretenimento com uma costura refinada de Pâmio entre as três peças, todas entrelaçadas pela personagem de Norival Rizzo, ator que constrói um Brian abalado pelo ceticismo da profissão e acometido de um humor sardônico que o aproxima do público.

Valorizado pela plateia de convidados que lotou o Teatro Nair Bello em sessão fechada da noite de segunda-feira, 17, o espetáculo ganhou, em sua primeira metade, um ritmo que dificilmente se sustentará ao longo das sessões corriqueiras, seja pela falta imediata de identificação com os pesos da carreira de um ator, seja pela real falta de ritmo que marca sua primeira metade.

Dividindo a cena com Josemir Kowalick, Norival Rizzo encena duas peças curtas, Quero um Agente e Assado. A dupla interpreta dois atores em uma discussão acerca do descaso de agentes com a carreira de profissionais que não atingiram a fama para, depois, entrar em cena em uma controvertida montagem na qual uma mãe narra um conto antissemita a seu filho.

Quero um Agente e Assado, as peças iniciais, rendem muito pouco graças ao teor irregular dos dois textos e, principalmente, ao jogo cênico fraco entre Kowalick e Rizzo. O intérprete de Brian até tenta, mas consegue trocar pouco com seu colega de cena, que assume uma construção excessivamente caricata e compromete o resultado das cenas.

A despeito da direção e adaptação inteligentes de Marco Antônio Pâmio, o desenrolar das duas cenas soam cansativas apelando a um tom de deboche caricatural – impressão essa que ameaça permear todo o espetáculo, mas se dissipa com a entrada em cena de Noemi Marinho.

A atriz constrói uma Barbara baseada em um timing perfeito de uma comédia de tons soturnos, sem jamais apelar para um presumível maniqueísmo na pele da mulher que busca encorajar o marido a encontrar outra profissão para que não apenas melhorar de vida, mas também para retomar sua autoestima.

A dupla formada por Rizzo e Marinho é o grande trunfo deste espetáculo que, a partir da encenação da terceira peça curta, Isto é uma Emergência, resulta de fato sedutor. Os atores encontram um tom cômico que se transforma num thriller psicológico encenado a perfeição. A partir daí, as duas peças iniciais soam apenas como mero prólogo, e a direção de Pâmio se mostra mais refinada.

Sublinhada pela luz de Caetano Vilela – que reflete o ótimo (e subaproveitado) cenário de Duda Arruk – e pela trilha de Gregory Slivar, a peça vai gradativamente abandonando o irregular tom solar pautado desde o início para assumir ares mais soturnos, sem jamais abandonar a tragicomédia estabelecida pela presença do jogo de Noemi Marinho e Norival Rizzo.

Compondo o elenco, Luciano Schwab aproveita os momentos ao lado da dupla de veteranos, e cria um estereotipado – porém funcional – contraponto a personagem de Rizzo. Sem arroubos interpretativos, Schwab serve de escada para cenas que, a bem da verdade, pertencem a Noemi Marinho, inteligentemente destacada pela direção de Pâmio.

Enfim, a despeito de pecar pelo excesso na adaptação de três peças nem sempre em real grau de excelência, Ator Mente cresce e se destaca graças ao jogo cênico entre Norival Rizzo e Noemi Marinho, excelentes atores que fazem deste espetáculo um ótimo exercício de interpretação e comédia sem jamais cair no trivial.

SERVIÇO:

Data: 14 de junho a 28 de julho (sexta a domingo)

Local: Teatro Nair Bello – São Paulo (SP)

Endereço: Shopping Frei Caneca – Rua Frei Caneca, 569, 3º piso

Horário: 21h (sextas e sábados); 19h (domingos)

Preço do ingresso: R$ 30,00 (inteira)/ R$ 15,00 (meia)


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