Solo da paixão pelo teatro, 57 Minutos triunfa na ambição do experimentalismo

57 Minutos | Foto: Pedro Mendes

As formas de se enfrentar o cotidiano e o quanto um dia comum pode ser destrutivo quando se encara a realidade são, guardadas as devidas proporções, os pilares que sustentam o argumento de 57 Minutos – O Tempo que Dura essa Peça, solo de paixão teatral encenado pelo ator Anderson Moreira Salles em no Espaço Parlapatões, na praça Roosevelt, zona central da capital, até o dia 10 de julho.

Partindo da premissa lírica apresentada em Ulisses, romance do escritor irlandês James Joyce, a peça apresenta um dia na vida de uma personagem que precisa lidar com os fardos da vida contemporânea, enquanto busca sobreviver com um emprego abaixo de suas expectativas e busca alcançar o sonho de se tornar um bailarino reconhecido.

Com direção e texto assinados por Moreira Salles, 57 Minutos é peça menos trivial do que seu início, em tom de didatismo irônico, deixa transparecer. O espetáculo percorre caminhos ambiciosos, com um linguagem cênica refinada. Salles assina uma direção construída com destreza. E esse é o maior trunfo da encenação.

Ainda que busque caminhos menos óbvios na dramaturgia fragmentada, o texto resulta menos interessante do que o excelente trabalho de ator e diretor de Salles, que constrói diálogo intenso com a (ótima) luz pensada por Ricardo Vivian, que, ao lado do ator, também assina a boa cenografia.

Abrindo mão de qualquer formalidade, o ator construiu charmoso mise-en-scène para derrubar a quarta parede e construir a ilusão de que, ainda que indiretamente, o público estava inserido no processo de construção de uma história que cativa ao não apelar para qualquer reação edificante em busca de uma identificação com a plateia (embora não resista a sublinhar certo lugar comum na abordagem de assuntos políticos-sociais) . A comunhão se faz sozinha – a despeito da simpática e contínua interação.

Ótimo ator, Salles beira a caricatura excessiva, mas sai ileso, sem comprometer tanto seu desempenho (baseado em excelente trabalho de corpo) quanto a encenação de 57 Minutos – O Tempo que Dura essa Peça, que, ao longo de mais de 57 minutos, triunfa em sua linguagem que, a despeito de não ser necessariamente inédita, é muito bem executada neste solo que se sobressai por ser, antes de qualquer coisa, uma declaração de amor do intérprete, diretor e dramaturgo ao ofício e ao fazer teatral.

SERVIÇO:

Data: 04 de junho a 10 de julho (terças e quartas),

Local: Espaço Parlapatões – São Paulo (SP)

Endereço: Praça Franklin Roosevelt, 158 – Consolação 

Horário: 21h

Preço do ingresso: R$ 30,00 (inteira)\ R$ 15,00 (meia)

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