Vigoroso, Agosto estabelece perfeito diálogo entre teatro clássico e contemporâneo

Agosto | Foto: Luciana Mesquita

Espetáculo que desde 2017 vem colecionando críticas unânimes e indicações a prêmios, Agosto, versão brasileira para August Osage Country, do dramaturgo norte americano Tracy Letts, cumpre nova temporada desde a última sexta-feira, 30, no Teatro Porto Seguro, em São Paulo.

Com fôlego e vigor renovados, o espetáculo cumpre nova temporada reafirmando a unanimidade de sua temporada de estreia em São Paulo, em 2018, no Sesc Consolação. Nesta nova temporada, mantendo elenco intacto, Agosto soa ressignificada frente às pontes erguidas entre o teatro clássico, passível de um elenco numeroso em produção, geralmente, suntuosa, e o teatro contemporâneo, militante de estética lacônica.

A encenação de Paes Leme conta, sem prejuízos, o drama familiar composto por Letts, componente da geração de dramaturgos norte americanos com família sobrevivente as privações da segunda-guerra mundial. E são as características que norteiam a produção dramatúrgica desta geração que são (muito) bem sublinhadas na versão brasileira de Agosto.

Ainda que conte com numeroso elenco formado necessariamente por 11 atores, Paes Leme concentra sua direção no cerne dos dramas familiares que norteiam a disfuncional família posta em cena. O diretor dá total protagonismo ao texto e a seu excelente rupo de atores que fazem desta uma das melhores experiências teatrais da última década

É, portanto, sintomático que eventuais contextos históricos, apesar de altamente limitados à cultura norte americano, soem menores frente ao embate cênico promovido pelo elenco que, sem jamais exceder a dose, se joga na melodramaticidade sem medo.

Ainda que sugira o contrário em seu prólogo, com interpretação fora de tom de Isaac Bernat, na pele do alcoólatra e depressivo patriarca Beverly Weston, o espetáculo atinge os tons certos, flertando com certa placidez dramática que só contribui para as tensões climáticas que permeiam toda a encenação, muito bem conduzida por Guida Vianna, assumindo o papel da matriarca Violet Weston.

Vianna é, inegavelmente, o grande destaque deste espetáculo recheado de pontos altos. Seu jogo de cena com uma ótima Letícia Isnard é excelente, principalmente no desfecho que jamais busca chocar ou surpreender, visto que, à medida que cada personagem se constrói, apenas resulta inevitável.

Ao longo de três atos (sublinhados, é verdade, com menos engenhosidade cênica), fica mais latente o excelente diálogo entre os elementos da encenação, baseados na luz febril de Renato Machado, na ótima cenografia de Carlos Alberto Nunes, e nos figurinos de Patricia Muniz, que, por si só, ajudam a contar a história pregressa de cada personagem, desenvolvida, no fim das contas, como extensões da própria matriarca.

Alicerçado na comicidade de um drama de contornos trágicos, Agosto é espetáculo de fôlego que, com visceralidade cênica, resulta um dos melhores espetáculos da década.

.

SERVIÇO:

Data: 30 de agosto a 29 de setembro (sexta-feira a domingo)

Local: Teatro Porto Seguro – São Paulo (SP)

Endereço: Alameda Barão de Piracicaba, 740 – Campos Elíseos 

Horário: 21h (sextas e sábados); 19h (domingos)

Preço do ingresso: R$ 80,00 (plateia)/ R$ 70,00 (balcão e frisas)

Notícias relacionadas