Bia Lessa prioriza encenação em versão potente e ininteligível de Macunaíma

Macunaima uma Rapsodia Musical | Foto: Silvana Marques

Obra considerada marco primordial do modernismo literário brasileiro, Macunaíma (1928) é uma rapsódia de concepção complexa na qual o poeta e escritor paulistano Mário de Andrade (ano) fundiu fragmentos de histórias, mitos e lendas indígenas para narrar a trajetória da personagem título, um herói sem caráter, cor ou gênero definidos.

Foi a plena compreensão destas características que fizeram da adaptação teatral da obra, assinada por Antunes Filho (ano) e encenada em 1978, um dos capítulos mais iônicos e importantes da história do teatro brasileiro. Aluna do mítico encenador sagrada uma das principais diretoras teatrais do Brasil nos últimos 20 anos, Bia Lessa esteve presente na montagem original que traçou novos rumos para o teatro experimental patropi.

É, portanto, sintomático que, mais de 40 anos após aquela catártica experiência cênica, a diretora não se prive de beber na fonte para encenar seu próprio Macunaíma, porém desta vez em adaptação assinada por Verônica Stigger, em cartaz no Teatro Antunes Filho, dentro do Sesc Vila Mariana, até o dia 15 de agosto.

Em parceria com o grupo Barca dos Corações Partidos, companhia teatral que, há cinco anos, vem revolucionando a forma de se fazer teatro musical no Brasil, Lessa faz de seu Macunaíma – Uma Rapsódia Musical uma obra de compreensão não apenas do romance de Andrade, mas também, e principalmente, da obra de Antunes, que ecoa na montagem.

Lessa, contudo, usa de seus próprios signos para dar uma identidade que ressoe a assinatura pop e contemporânea que vem construindo desde que surgiu no mercado, e ajudou a ressignificar alguns dos elementos da cultura pop dentro da música e do teatro.

A inserção de citações gravadas por Arnaldo Antunes e Maria Bethânia, por exemplo, carimbam esta assinatura, que também ressoa na união entre canções inéditas compostas pelo duo O Grivo com temas pop, como Baila Comigo, (Rita Lee/ Roberto de Carvalho, 1980), por exemplo.

Entretanto, Lessa, que fez de seu espetáculo-instalação Grande Sertão Veredas, uma das melhores experiências cênicas da última temporada, levando para casa indicações e premiações das mais importantes do teatro paulistano, constrói um Macunaíma baseado exclusivamente na encenação, deixando de lado, por exemplo, o texto de Stigger.

A dramaturgia da escritora segue presente na encenação, porém Lessa opta por caminhos menos óbvios, e faz de Macunaíma – Uma Rapsódia Musical uma obra de tons ininteligíveis. É claro que a proposta segue clara e a trajetória do herói sem caráter segue a linearidade teatral, entretanto a montagem (baseada no cenário excelente de Lessa) não parece se desenvolver.

A Barca dos Corações Partidos tem desempenho iluminado, assim como os atores convidados, Ângelo Flávio Zuhalê, Hugo Germano, Lana Rhodes, Lívia Feltre, Sofia Teixeira e Zahy Guajajara, entretanto a montagem não comunica, tampouco emociona. Em Macunaíma – Uma Rapsódia Musical, o diálogo com o público resulta trincado em uma encenação que, a despeito do fôlego, resulta mais interessante do que propriamente sedutora.

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SERVIÇO:

Macunaíma – Uma Rapsódia Musical

Data: 19 de julho a 15 de agosto (quarta-feira a domingo)

Local: Teatro Antunes Filho, Sesc Vila Mariana – São Paulo (SP)

Horário: 15h (quarta-feira); 20h (quinta-feira a sábado); 18h (domingo)

Preço do ingresso: R$ 50,00 (inteira) | R$ 25,00 (meia entrada) | R$15,00 (associados SESC)

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