Competente, O Frenético Dancin Days conquista quando não se leva a sério

O Frenético Dancin Days

Foi em agosto de 1976 que, a pedido de empresários que apostavam todas as fichas no novíssimo Shopping da Gávea, zona sul do Rio de Janeiro, que Nelson Motta deu início a um dos empreendimentos mais importantes de sua vida: a boate Dancin Days. Foi na pista do clube, criado para durar apenas quatro meses para, depois, dar espaço ao Teatro dos Quatro, que a noite carioca se transformou e viu nascer o sucesso de figuras como Sônia Braga e o grupo As Frenéticas. 

Reviver esses tempos dourados é o mote de O Frenético Dancin Days, musical, ora em cartaz no Teatro Opus, dentro do Shopping Villa-Lobos, zona oeste da capital, que cumpre temporada até o dia 26 de maio (domingo). Com texto assinado pelo próprio Nelson Motta em parceria com a escritora Patrícia Andrade, o espetáculo busca – com sucesso – reviver aquela aura mítica da disco music do final da década de 1970. 

E está nessa aura o grande triunfo deste musical, que conta com excelente desenho de luz pensado por Maneco Quinderé – que usa com inteligência elementos clássicos da época, como o famoso globo de espelhos, que transforma o teatro em uma verdadeira pista de dança.

Somado ao trabalho de Quinderé, estão os ótimos figurinos de Fernando Cozendey e o visagismo de Max Weber, que recriam a perfeição uma alegoria sobre os tempos da brilhantina, sem jamais cair no simplismo. E por esse mesmo caminho segue a refinada direção musical de Alexandre Elias, que vira do avesso alguns clássicos que poderiam soar datados ou cair em perigoso lugar comum. Mas o diretor se livra das armadilhas propostas pela força a qual o tempo expôs o repertório majoritariamente internacional. 

Com hits como “Disco Inferno”, “Light My Fire” e “Perigosa”, o musical consegue cativar o público desde o início insosso, quando parte do elenco tenta contar, com artefatos simplistas (projeção, por exemplo) a história do início da boate (o sucesso fracassado do Festival de Saquarema). 

E essa energia que quase faz com que passem despercebidas irregularidades que, a bem da verdade, chegam a ser gritantes ao longo de quase duas horas de encenação. O fiapo de dramaturgia pensada por Nelson Motta e Patrícia Andrade, por exemplo, pouco faz pelo espetáculo. Com diálogos simplistas e um desenvolvimento pueril, o jornalista e a escritora criam um universo de clichês emoldurados pelos grandes clássicos da era de ouro da disco music. 

O mesmo se pode dizer da direção amadorística de Deborah Colker, que não imprime assinatura e nem consegue força para podar excessos do elenco – essencialmente irregular. Bruno Fraga constrói um Nelson Motta sem carisma, enquanto Cadu Fávero se perde nas intenções de seu comunista Djalma. Larissa Venturini e quem melhor tenta uma construção como Scarlet, mas também pouco pode fazer em cena. 

Na pele do DJ Dom Pepe, Érico Brás se destaca por construir uma personagem com o tempo exato da comicidade, batendo de frente com Débora Reis, excelente atriz que faz o que pode pela sua personagem, a fictícia Dona Dayse, que se perde entre piadas de pouca inventividade. Reis, contudo, extrai graça em uma construção que, apesar das semelhanças, se distancia da consagradora performance de Hebe Camargo, comprovando a versatilidade da atriz. 

Na pele da empregada Madalena, Ariane Souza se entrega a uma interpretação repleta de cacoetes caricaturais. Muito diferente de Carol Bezerra que, com um papel menor, se faz inteiramente presente numa construção perfeita da frenética Lidoka. 

Contudo, apesar dos pesares, O Frenético Dancin Days conquista quando não se leva a sério consegue fazer sobressair a frenética aura do dancin days, numa montagem que apela para um saudosismo perene até em quem não esteve presente na pista de dança de uma das boates que, antes de virar musical, já revolucionara o comportamento na música popular do Rio de Janeiro. 

SERVIÇO: 
Data: 15 de março a 26 de maio 
Local: Teatro Opus – São Paulo (SP) 
Endereço: Av. das Nações Unidas, nº 4777 – Alto de Pinheiros/ 4o piso – Shopping Villa-Lobos 
Horário: 21h (sexta-feira); 17h e 21h (sábado); 18h (domingo) 
Preço do ingresso: R$ 75,00 a R$ 170,00

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