Compilando linguagens, I Love Neide se equilibra na imagem de Eduardo Martini para fugir de armadilhas do tempo

Neide Boa Sorte - Manual de uma Cinquentona Atrevida | Foto: Divulgação

Quando estreou em 2007 sob a direção de Clarisse Abujamra e com texto assinado por Marcelo Saback e Pablo Diego Garcia, I Love Neide – Manual de uma Cinquentona Atrevida era espetáculo calcado em dois pilares infalíveis: uma personagem popularizada pela massa televisiva, audiência de um programa popular comandado pela apresentadora Hebe Camargo (1929-2012), e o timing cômico de seu intérprete e autor, Eduardo Martini.

I Love Neide é espetáculo que perdura na memória afetiva não apenas dos fãs de Martini, mas também daqueles que aprenderam a amar a socialite mau humorada responsável por opiniões divertidas a respeito das dores e delícias da vida cotidiana.

E é justamente nesta memória afetiva que o espetáculo se alicerça em sua nova temporada, quase 15 anos após a estreia – que gerou ainda segundo espetáculo, menos sedutor e com texto mais irregular que o original. A obra não se ressente de apelar para a memória afetiva de um público que acompanhou a personagem durante sua passagem pelo palco de Hebe Camargo, nem tampouco para a memória do mesmo público que se acostumou a rir de um tipo de humor debochado e comumente classificado como politicamente incorreto.

I Love Neide percorre justamente este caminho da memória ao propor um humor que não passou pelo filtro do tempo, nem tampouco buscou uma renovação para entrar em acordo com a evolução social contemporânea. O texto de Marcelo Saback e Pablo Diego Garcia percorre caminhos do estereótipo fundindo referências com o humor de situação, o vaudeville e a comédia do insulto.

Tudo se une neste solo encenado com influências do besteirol e (até) do teatro de revista, na busca por um riso que nem sempre vem fácil, mas consegue conquistar o público. Mérito de seu intérprete. Martini tem a seu favor uma década e meia de experiência na pele da socialite mau humorada, que não se ressente em rir da plateia ou de situações cotidianas do balanço da classe social, num caminho que em qualquer outro espetáculo soaria extremamente perigoso não tivesse o ator o domínio do público que tem.

Neide Boa Sorte encontra um tom próprio entre a aspereza e o carinho com um público que, verdade seja dita, faz com que Martini entre em cena com o jogo ganho, e dissipe qualquer possível mau estar ao longo de pouco mais de uma hora de encenação. O ator faz de sua personagem um bom exemplo de uma comédia de erros que cativa o público e a livra de qualquer régua moral ou que busque um jogo político em suas palavras.

O que vale de fato em I Love Neide – Manual de uma Cinquentona Atrevida, muito mais do que o texto que, com o tempo, passa a soar cambaleante, é a trajetória da personagem construída por Martini em espetáculo luminoso que, no fim das contas, diverte ao apresentar um compilado de linguagens da comédia popular, sem jamais deixar a impressão de que o público se nivela por baixo.

SERVIÇO:

I Love Neide – Manual de uma Cinquentona Atrevida

Data: 19 de fevereiro a 26 de março (sextas-feiras)

Local: Teatro União Cultural, São Paulo – SP

Endereço: Rua Mário Amaral, 209 – Paraíso

Horário: 21h

Preço do ingresso: R$ 35,00 (meia) a R$ 70,00 (inteira)

Notícias relacionadas