Crítica: DogVille traz ao palco o impacto da história vista no cinema

Elenco de Dogville - De Lars Von Trier (Fotos: Ale Catan)

DogVille, do dinamarquês Lars Von Trier, é uma peça cinematográfica com linguagem dramática e contemporânea. A peça é uma adaptação do filme norte-americano de mesmo nome lançado nos cinemas em 2004. Aqui no Brasil, DogVille ganha uma envolvente versão do premiado diretor Zé Henrique de Paula, que está em cartaz no Teatro Porto Seguro, em São Paulo, até o dia 31 de março.

Com a proposta de desconstrução dos cenários para compor uma pequena cidade com o menor número de elementos em cena, as cadeiras, que aparecem constantemente, auxiliam o expectador a visitar cada fábula. Embora chame a atenção a escolha pelo tradicional palco italiano ao invés de uma disposição diferente que possibilite uma vivência fora da zona de conforto do público com a história.

Entretanto, a escolha pela permanência da quarta parede constrói uma experiência próxima do filme, sem grandes surpresas para quem já o assistiu. Apesar dos elementos contemporâneos, as interpretações buscam o naturalismo em cena.

Um dos destaques positivos é a projeção de imagens para contar parte da história, como a visita de policiais que, apesar de estarem em cenas pré-gravadas, interagem com os atores (Felipe Ramos e Guilherme Leal) no palco. Além disso, há a captação de imagens ao vivo dos atores que são transmitidas instantaneamente no fundo do palco, propondo assim, de forma assertiva, um elo cinematográfico sob a ótica do que acontece em cena. Os figurinos são excepcionais, de tons frios e apáticos, que ajudam a construir a atmosfera dramática da história.

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Mel Lisboa constrói sua personagem, Grace, com equilíbrio entre uma bondade misteriosa, fragilidade e força. Entretanto falta a sensualidade indireta que justifique alguns dos acontecimentos da história. Mas vale ressaltar que no cinema, a Grace de Nicole Kidman, ao contrário a de Mel, sublinha com sutileza necessária essa característica. Já Fábio Assunção é responsável por uma das cenas mais fortes do espetáculo com o personagem Chuck. Ele o faz com tônus adequado para trazer ao espectador diferentes sentimentos sobre o que acontece no palco.

Diferente do filme, o diretor optou por colocar um ator em cena para contar a história ao invés de usar apenas uma voz narrativa. Esse mesmo ator, Eric Lenate, se transforma em cena para dar vida ao pai de Grace. Ou seja, a versatilidade e mudanças em seu corpo, voz e tônus fazem da transição uma passagem quase imperceptível, o que é preciso para sublinhar a diferença de seus dois personagens.

Outros destaques em cena são os atores Rodrigo Caetano, Blota Filho, Selma Egrei, Gustavo Trestini e Thalles Cabral. Por outro lado, o elenco ser composto exclusivamente por atores brancos não se justifica. Ou seja, poderia haver mais representatividade com atores negros inseridos na história.

De uma maneira geral, a peça traz boas surpresas apesar de seguir fielmente a mesma história do longa já apresentada no cinema. Além disso, a mistura dos elementos contemporâneos com interpretações naturalistas é uma proposta interessante. A reação do público acompanha o que é apresentado. O trabalho de construção das personagens, do corpo ao monólogo interno, são perceptíveis. A peça poderia ser cansativa, mas ao contrário, se torna cada vez mais interessante através de uma direção inteligente.

Serviço:

Com: Mel Lisboa, Eric Lenate, Fábio Assunção, Bianca Byington, Marcelo Villas Boas, Anna Toledo, Rodrigo Caetano, Gustavo Trestini. Fernanda Thurann, Thalles Cabral, Chris Couto, Blota Filho, Munir Pedrosa, Selma Egrei, Dudu Ejchel e Fernanda Couto.
Texto: Lars Von Trier.
Direção: Zé Henrique de Paula.
Quando: De 25 de janeiro a 31 de março. Sexta e sábado, às 21h. Domingo, às 19h. Ingressos: R$ 50 a R$ 90. 100 min.
Classificação: 16 anos.
Onde: Teatro Porto Seguro – Alameda Barão de Piracicaba, nº 740, Campos Elíseos, São Paulo (SP). 496 lugares. Tel: (11) 3226-7300.

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