Crítica: Na Cama Com Molière é uma peça com celebrações, críticas e risos

Elenco de Na Cama com Molière - Crédito: Jamil Kubruk

A peça Na Cama Com Molière, baseada na obra do dramaturgo francês Molière (1622-1673), se esforça para ser uma comédia com elementos da Commedia Dell’Arte, com a construção de cenas a partir de improvisos que dão o tom da adaptação dirigida pelo inglês John Mowat, conhecido internacionalmente por suas habilidades como encenador mimico.

A trama original, O Doente Imaginário (Le Malade Imaginaire), ficou famosa ao descrever a farsa do idoso que cria doenças em si mesmo. Na vida real, contudo, o autor Molière, que também deu vida ao personagem idoso na peça, faleceu uma semana depois da estreia, algumas horas após passar mal em cena.

Na atual adaptação, a escolha do espetáculo marca a homenagem aos 50 anos de carreira do ator Henrique Taubaté Lisboa, de 73 anos. Ele interpreta em grande estilo e boa forma a personagem do idoso hipocondríaco Aragão. Com uma construção rica, o ator ainda exibe partituras de movimentos e verdade cênica que demonstram o porquê é merecedor da homenagem.

Contudo há alguns problemas na peça, como a disposição do espaço cênico. Há uma cena em que as personagens Dr. Boa Morte (Augusto Marin) e Taiguer (Paulo Dantas) conversam sentados em uma mesa colocada na extrema lateral do palco, o que dificulta a visão e compreensão do que ali acontece pelos espectadores que estiverem sentados nos cantos da plateia. Em outro momento é a personagem Belinha (Wilma de Souza) que fica parada de costas ao público. Ela fica próxima aos espectadores, o que novamente impossibilita a visão.

Inglês John Mowat dirige peça da COMMUNE que marca os 50 anos de carreira do ator Henrique Taubaté Lisboa

A escolha pela quebra da quarta parede e interações com os espectadores foram acertadas. A luz fica o tempo todo acesa na sala de espetáculo para construir uma atmosfera próxima ao ambiente proposto: um posto de espera de hospital público. Contudo, embora o espetáculo tenha se construído no improviso, ao provocar a interação do público, há pouca habilidade para situações adversas ao que previamente é esperado como reação pelos atores.

Também não há um propósito claro ao público que justifique a personagem Tonha (Fabricio Garelli) ser uma mulher, interpretada por um homem barbado que fala com voz masculina. Ainda assim, ele traz um pouco da energia circense com sua postura de palco próxima ao do palhaço (clown).

Destaque para a atriz Dulcinéia Dibo, que encontrou o tônus ideal para a personagem Angélica. A interação dela com a plateia também se mostrou uma proposta interessante do diretor. Ela cria um mini-diálogo paralelo com a cena ao conversar com um membro da plateia para reclamar sobre a falta de água. Além disso, outro ponto positivo é a cena de perseguição entre todos os personagens, que conseguem ocupar o espaço de criar uma partituras de movimentos orgânicas e envolventes.

Apesar de ser uma releitura, nota-se poucas críticas ao que acontece na atualidade e assim, o que há ali, é superficial. Por outro lado, a grande proposta fica em torno da discussão indireta sobre a indústria da doença. Além de falar das consequências dessa indústria nas ações e comportamentos dos pacientes, médicos e laboratórios. Da mesma forma discutem sobre o respeito ao direito das mulheres e ambição.

É uma peça que vale a pena ser conferida por ser bem construída e baseada em um clássico. Além disso, poder ver a desenvoltura envolvente e divertida do ator Henrique Taubaté Lisboa é uma boa pedida.

Serviço:

Com: Henrique Taubaté Lisboa, Wilma de Souza, Augusto Marin, Fabricio Garelli, Dulcinéia Dibo e Paulo Dantas.
Texto: baseado na peça “O Doente Imaginário”, de Molière.
Direção: John Mowat.
Quando: De 9 de fevereiro a 21 de abril. Sexta-feira e sábado, às 21h. Domingo, às 20h. Ingressos: R$ 15 a R$ 30. 80 min.
Gênero: Comédia.
Classificação: 12 anos.
Onde: Teatro COMMUNE – Rua da Consolação, nº 1.218 – Consolação, São Paulo (SP). 99 lugares. Tel: (11) 3476-0792.

Notícias relacionadas