Em adaptação crítica, Pós-F emula anarquia de Fernanda Young sem ceder a sentimentalismo

Pós-F - Foto: Paula Mercedes

Livro de ensaios que rendeu um Prêmio Jabuti póstumo para a escritora e roteirista multimídia Fernanda Young (1970-2019), Pós-F – Para Além do Masculino e do Feminino é publicação onde a artista, em confessa evolução constante, reflete sobre temas como o feminismo, o machismo, o feminino, a identidade de gênero e outros assuntos que vêm tangendo as discussões sociais desde meados da última década.

Discordando de suas próprias ideias e colocações, Young pretendia subir ao palco ao lado de Maria Ribeiro para contestar as linhas que publicara em 2018, quando uma forte crise de asma a tirou prematuramente de cena aos 49 anos de idade em agosto de 2019. Boa parte destas ideias não estão presentes em Pós-F, adaptação teatral do livro que chegou aos palcos em formato digital no último sábado, 12.

Compondo a programação digital do Teatro Porto Seguro, o espetáculo estrelado por Maria Ribeiro é uma compilação de alguns dos pensamento da escritora que extrapolam a publicação e adicionam frescor ao espetáculo dirigido por Mika Lins, que, ao lado de Ribeiro e do iluminador Caetano Vilela, assina a adaptação do texto.

A anarquia punk de Young flerta com o texto e com o (ótimo) cenário também assinado por Lins (com desenhos da escritora, de sua filha Estela May e da própria diretora), que construiu encenação sedutora, optando por interessante metalinguagem cênica quando Maria Ribeiro assume a pele de uma personagem híbrida, que funde características de Young, de algumas de suas personagens e da própria atriz.

Compreendendo a linguagem digital, Lins não cede à tentação de tornar a experiência um híbrido de cenas ao vivo e pré-gravadas como geralmente tem se posto em prática, e opta por apresentar vídeos que, de fato, servem para a continuidade do espetáculo e, corajosamente, abre o processo de montagem através do registro de cortes no texto de passagens que, de acordo com Ribeiro, seriam contraproducentes e também já não condiziam com o pensamento de Young.

Em cena como a personagem híbrida e metalinguística, Ribeiro emula trejeitos de Fernanda Young que, embora não convençam, se adequam à encenação que, tal qual sua homenageada, foge ao simplismo (a despeito do tom protocolar que assume de início) sem jamais soar ininteligível. A ideia é comunicar. E comunica.

Seja no previsivelmente excelente desenho de luz de Caetano Vilela, seja na escolhas das canções que compõem a trilha sonora essencialmente pop, Pós-F é espetáculo que anda na superfície da anarquia punk de Fernanda Young sem jamais se deixar levar pelo sentimentalismo ao homenagear e celebrar ideias e imagens desta figura transgressora, acostumada a incomodar os acomodados.

SERVIÇO:

Pós-F

Data: 12 de setembro a 04 de outubro (sábados e domingos)

Local: Teatro Porto Seguro – com transmissão via Tudus

Horário: 20h

Preço do ingresso: a partir de R$ 20,00

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