Ficha técnica pouco inspirada posiciona musical como (boa) obra de entressafra de Vitor Rocha e Elton Towersey

Bom dia sem Companhia | Foto: Divulgação

Dramaturgo mineiro que emergiu no mercado do teatro musical com a encenação do (ótimo) Cargas D’Água, espetáculo que lhe conferiu sucesso de crítica e a criação de público cativo após incursão independente pelo (de fato) inaugural Casusbelli, Vitor Rocha atingiu o ápice do lirismo teatral ao erguer ponte com o ator e músico fluminense Elton Towersey, com a encenação do lúdico Se Essa Lua Fosse Minha, obra que conferiu à dupla críticas elogiosas, sucesso de público e um Prêmio Bibi Ferreira de Melhor Música Original.

No mesmo ano, os artistas se esbarraram na condução do infanto-juvenil O Mágico Di Ó, musical no qual Rocha recontou em cordel a clássica saga de Dorothy, de O Mágico de Oz, com alusão sertaneja e canções compostas por Marco França e co-estrelado por Towersey.

Agora, a dupla retoma a parceria em Bom Dia sem Companhia, comédia musical que, ao narrar a história de dois ex-apresentadores mirins que se reencontram após uma década para gravar o especial do programa que apresentavam na infância, lança os parceiros, pela primeira vez, no universo do realismo teatral.

Até então, os atores viajaram pela linguagem lúdica e fantasiosa de obras repletas de poesia. Ao se lançarem em comédia urbana, Towersey e Rocha não apenas dão passo adiante na investigação do teatro musical moderno, como também solidificam as pontes artísticas erguidas dentro de linguagem mais permissiva.

É passo arriscado que, a rigor, se revela menos proveitoso do que os caminhos percorridos até então. Bom Dia sem Companhia é pedra menor na obra criada pelos artistas, ainda que se mantenha em patamar importante por propor não apenas a investigação, mas a criação de uma linguagem própria para o teatro musical tupiniquim.

Em cena, Rocha e Luiza Porto narram a história de amizade entre Vini e Lara, dois ex-apresentadores mirins que, à medida que o sucesso da atração cresceu, passaram a se distanciar. Passada uma década do primeiro programa, os ex-amigos aceitam um reencontro para uma edição especial.

A ação se passa majoritariamente dentro do consultório de dois terapeutas para os quais os amigos narram sua trajetória artística e pessoal antes, durante e após o programa. Embora seja configurada como uma comédia, Bom Dia sem Companhia se estabelece com mais afinco no drama, e, quando assume ares tragicômicos, resulta, de fato, interessante.

Ainda que lide com algumas irregularidades – a presença constante de bonecos é a principal delas, uma vez que as personagens não conferem ritmo, e até ralentam a ação do espetáculo -, a obra se sai bem ao alicerçar sua força no excelente trabalho de Luiza Porto (em momento iluminado em cena) e na boa química da atriz com o autor, Vitor Rocha (que, nesta obra, mostra avanços como cantor).

As canções compostas por Rocha e Towersey também são ponto alto da encenação, ainda que sequer rocem a genialidade de Se Essa Lua Fosse Minha. A direção de Alonso Barros faz pouco pelo espetáculo. Excelente coreógrafo, Barros estabelece coreografia cênica que não injeta personalidade na obra, fazendo com que o musical ressoe apenas como uma comédia banal.

Há mais a ser explorado na dramaturgia de Rocha do que a direção dá conta, ainda que este também não seja seu melhor trabalho. A bem da verdade, Bom Dia sem Companhia é musical que poderia soar meramente protocolar não fosse uma obra Rocha-Towersey.

Seja a cenografia e os figurinos de Juliana Porto, seja o desenho de luz de Marina Gatti, nada resulta verdadeiramente inspirado. As participações de Ana Bia Toledo (substituída em cena por Paulo Alves), Luci Oliveira, Mikael Marmorato, Renan Rezende e Thiago Venturi também pouco adicionam à obra, que se mantém interessante pelo embate da dupla de protagonistas.

Enfim, embora esteja longe de ser a melhor obra da dupla Rocha-Towersey, Bom dia Sem Companhia é importante passo adiante na fomentação de uma linguagem própria para o teatro musical brasileiro que, a cada ano, reforça a impressão de desgaste artístico na fórmula de importação de espetáculos enlatados, ainda que mercadologicamente haja público para consumir.

SERVIÇO:

Data: 02 a 24 de outubro (sábados e domingos)

Local: Teatro Viradalata – São Paulo (SP)

Endereço: Rua Apinajés 1387 – Sumaré

Horário: 20h; 19h

Preço do ingresso: R$ 30,00 (meia) a R$ 60,00 (inteira)

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