Força cênica de Daniel Infantini carrega Lady M, mas não dissipa teor protocolar de solo

Lady M | Foto: Vitor Vieira

Em meados de 2012, a dupla de atores e diretores Bruno Guida e Daniel Infantini se uniram para encenar um dos espetáculos mais incensados daquele ano, a tragicomédia The Pillowman – O Homem Travesseiro, do cineasta e dramaturgo inglês Martin McDonagh, que ganhou novas temporadas em 2015 e 2016 com sucesso de público em São Paulo.

Da união cênica surgiu linha de pesquisa que visa a investigação acerca da mescla entre duas linguagens: o melodrama e a bufonaria. O flerte entre as duas linguagens pautou então a parceria de Guida e Infantini, que encenaram obras de maior (In Extremis, de 2015) e menor (Bull, de 2014) êxito.

Em 2018, a dupla se aprofundou na pesquisa de intersecção com a encenação de Lady M, solo escrito pelo dramaturgo paulistano Milton Morales Filho que narra o destino de uma jovem garota moradora de rua que, ao ser adotada por uma atriz do teatro clássico que faz de sua vida um verdadeiro inferno ao tirá-la da rua para posicioná-la como empregada da casa e, depois, como sua camareira.

Guiada pelo depoimento da jovem, a história se desenvolve de maneira linear enquanto a camareira espera por sua patroa no camarim ao longo de mais uma sessão do grande espetáculo da companhia.

Três anos após estrear nos palcos de São Paulo, Lady M chegou no último dia 06 de março ao universo online, cumprindo curta temporada virtual e gratuita aos sábados e domingos de março até o dia 21.

Simples e sem arroubos cênicos, a montagem se alicerça online tal qual sua encenação original: sobre o trabalho de Daniel Infantini e o texto de Morales. Embora tenha feito a mesma aposta em In Extremis, também cumprindo temporada online dentro de projeto transmitido do palco do Teatro Aliança Francesa, Bruno Guida tem menos êxito em Lady M.

Diferente do espetáculo escrito pelo inglês Neil Barlett sobre o encontro do escritor Oscar Wilde (1854-1900) com uma famosa cartomante francesa, o texto de Morales resulta menos sedutor, e não é o bastante para sustentar a encenação, mesmo com a irretocável construção de Infantini, que caminha com perfeição em registro bufão e (até) absurdo.

A adaptação online carece de algum dinamismo que injete interesse e dissipe o caráter protocolar da dramaturgia. Problema parecido o diretor enfrentou em 2020 em sua estreia online com a encenação de Ninho, grande espetáculo que se apequenou no universo online justamente pela falta de uma narrativa cênica que o sustentasse no campo virtual.

Mesmo o (bom) desenho de luz concebido e operado por Fábio Ferreti é prejudicado pelo caráter monocórdio do registro online, que posta na tríplice texto-direção-elenco sem, contudo, ter uma base sólida para se sustentar sem uma adaptação que injete fôlego na obra.

Fica a impressão de que Lady M é espetáculo pensado para abrir caminho para que Daniel Infantini brilhe em cena – o que, de fato, acontece -, contudo nem mesmo a força cênica do intérprete é capaz de dissipar a impressão de que a obra é mera dramaturgia protocolar que necessitava ser alavancada pela direção numa linguagem que se irmanasse com a proposta.

SERVIÇO:

Data: 06 a 21 de março (sábados e domingos)

Local: Plataforma Zoom

Horário: 20h

Preço do ingresso: Grátis

Ingressos disponíveis através da plataforma Sympla

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