Grupo Tapa vai ao essencial de Albee para discutir e dissecar crise social

De Todas as Maneiras que há de Amar - Foto: Divulgação

Em meados da década de 1970, o dramaturgo norte americano Edward Albee (1928-2016) já era considerado como um dos grandes não apenas de sua geração, mas da história do teatro moderno americano. Àquela altura, o dramaturgo já havia escrito os títulos considerados o suprassumo de sua obra: A História do Zoológico (1959), A Morte de Bessie Smith (1960), Quem tem Medo de Virginia Woolf? (1962) e Um Equilíbrio Delicado (1966), peças fundamentais para entender o estilo do autor.

Produzindo com certa constância, Albee só voltaria a ser celebrado como o grande dramaturgo dos Estados Unidos entre o final da década de 1980 e meados de 1990, com obras como Peça do Casamento (1987), Três Mulheres Altas (1991) e A Peça o Bebê (1998), além de A Cabra ou Quem é Sylvia? (2000), peça que rendeu a Albee seu segundo prêmio Tony, quase 40 anos após vencer o primeiro pelo clássico Virgínia Woolf.

Contudo, entre os espetáculos de menor repercussão midiática – e mesmo à luz da história -, alguns títulos se sobressaem como obras sem a devida repercussão. Uma delas, Counting the Ways, montada originalmente em 1973, chegou pela primeira vez ao Brasil na última sexta-feira, 24.

Primeira incursão do grupo Tapa pela obra do dramaturgo americano, a montagem brasileira de Counting the Ways chega ao Brasil rebatizada como De Todas as Maneiras que há de Amar, título retirado dos versos de De Todas as Maneiras, canção de Chico Buarque de Hollanda lançada por Maria Bethânia em seu álbum Álibi, de 1979.

Dividido em pequenas esquetes, separadas por blackouts, De Todas as Maneiras que há de Amar traça os acordos sociais e matrimoniais de Ela e Ele, personagens tão abstratas quanto presentes em toda a obra de Albee. Através da figura mitológica do casamento, o autor destrincha os pequenos pactos sociais que alicerçam a convivência diária, seja através de uma união estável, seja por uma simples conveniência social.

Sob a montagem d’O Tapa, De Todas as Maneiras que há de Amar surge em sua primeira montagem brasileira como um Albee seco e em sua essência. Eduardo Tolentino de Araújo assina também esta obra tomando como base o trabalho dos atores sobre o texto, sem buscar elementos que interfiram nesta comunicação com o público que, há 40 anos, mantém o Tapa como um dos grupos essenciais do teatro patropi.

Clara Carvalho e Brian Penido Ross dão vida ao casal que, há muito juntos, se depara com incongruências sociais para as quais ainda não haviam se atentado. Através do questionamento inicial – um dos primordiais da obra de Albee, quando Ela pergunta a Ele: “você me ama?” – a peça se alinhava com questionamentos vigentes desde meados da década de 1970, e ainda aptos a discussão.

Carvalho e Penido Ross repetem em cena inúmeras parcerias que tornaram a dupla devidamente azeitada para dar vida a estas personagens que precisam se apoiar na existência do outro para sobreviver. Ambos se valem das incessantes entradas e saídas de cena que irmanam o espetáculo a um clássico vaudeville para cativar o público.

Com elegância habitual, Carvalho desconstrói mitos estabelecidos em seu registro cênico para, assim como fez em A Profissão da Senhora Warren, passear pelo erotismo e pela comicidade, enquanto Penido Ross se arrisca ao construir um bufão melancólico e carismático, que ganha a plateia de imediato.

De Todas as Maneiras que há de Amar resulta em espetáculo de tom socialmente claustrofóbico, ressaltado pela encenação construída em forma de uma arena intimista, montada na Sala Ateliê do Teatro Aliança Francesa, na República, zona central da capital paulistana, com elementos cênicos que transformam a experiência de deterioração de um casal em puro deleite social. Como sempre quis Edward Albee.

SERVIÇO

Data: 24 de Janeiro a 16 de Fevereiro (sexta-feira a domingo)

Local: Sala Ateliê do Teatro Aliança Francesa – São Paulo (SP)

Endereço: Rua General Jardim, 182 – República

Horário: 21h (sextas); 19h30 (sábados e domingos)

Preço do ingresso: R$ 25,00 (meia) a R$ 50,00 (inteira)

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