Irregular e pueril, musical Aparecida peca na ficha criativa

Musical Aparecida com texto de Walcyr Carrasco e direção de Fernanda Chamma

Em cartaz desde março no Teatro Bradesco, Aparecida, Um Musical busca uma linguagem dramatizada para contar a história da santa reconhecida como padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. 

Com roteiro assinado por Walcyr Carrasco, o espetáculo vai aos primórdios do reconhecimento da figura sagrada dentro da religião católica para, em paralelo, desenvolver a folhetinesca história do casal Caio e Clara, acometidos por uma trágica doença e que encontram salvação através da fé na santa. 

Com músicas inéditas assinadas pelo letrista Ricardo Severo e pelo diretor musical e maestro Carlos Bauzys, a encenação dá passo importante na produção de espetáculos genuinamente brasileiros, com uma obra pensada e gestada exclusivamente para o mercado do teatro musical. 

Contudo, a despeito da ótima iniciativa de se propor um musical 100% original, Aparecida, Um Musical não leva para o lado criativo o mesmo esmero do âmbito da produção. Com um roteiro altamente irregular, o musical padece com uma construção pueril. Walcyr Carrasco cria um texto folhetinesco que jamais diz a que veio, construindo um fiapo de dramaturgia que não sustenta o espetáculo. 

As canções de Bauzys e Severo, embora busquem referências na música regional brasileira, também fazem pouco pelo espetáculo. Cantado do início ao fim, o musical padece de letras com um trabalho mais burilado. Nome que criou trilhas de alto nível para o teatro paulistano, Severo faz em Aparecida uma série de canções que pecam pela excessiva literalidade. Bauzys, por sua vez, cria melodias que não movimentam a história, fazendo com que ela soe altamente enfadonha.

Contudo, o real problema deste espetáculo encontra-se na direção de Fernanda Chamma. A coreógrafa criou uma direção inexpressiva que não valoriza o musical e sublinha a irregularidade do fiapo de dramaturgia pensada por Carrasco. 

O elenco também sofre com a falta de firmeza da direção, o que faz com que o casal protagonista – vivido por Leandro Luna e Bruna Pazinato – se apague em cena. Contudo, justiça seja feita, a dupla de atores faz o que pode, assim como boa parte do elenco que tenta valorizar os papéis pífios distribuídos entre os (excessivos) 33 atores em cena. 

Se Alessandra Vertamati fica no limite da caricatura na pele da faxineira que busca ajudar os patrões através da fé na santa, Nábia Vilela soa opaca como a restauradora Maria Helena. Ator que atingiu seu melhor desempenho no elenco de Se Essa Lua Fosse Minha, Arthur Berges se comprova irregular atingindo o extremo oposto em Aparecida na pele de Rogério, responsável por quebrar a imagem da santa num ato de possessão.

Quem melhor se sai é Frederico Reuter na pele do padre Lino, numa construção de camadas precisas. O extenso elenco se divide entre personagens irregulares que lhes dão poucas possibilidades – mérito, ainda, da direção inexistente de Chamma, que, não soube, inclusive, como alocar o cenário pouco inventivo de Richard Luiz, e a luz chapada de Cesar de Ramires em cena. 

Em cartaz até 09 de junho, no Teatro Bradesco, dentro do Shopping Bourbon, Aparecida, Um Musical busca dar um passo importante na produção do teatro musical originalmente brasileiro, sem se utilizar de canções já conhecidas, investindo uma bem-vinda aventura original. 

Contudo, faltou a produção melhor crivo na escolha de sua equipe criativa que, apesar do esmero de Bauzys e Severo, pecou pela irregularidade de um roteiro pueril e uma direção inexpressiva, fazendo com que Aparecida resulte em um espetáculo esquecível. 

SERVIÇO: 
Data: 22 de março a 09 de junho (sexta a domingo) 
Local: Teatro Bradesco – São Paulo (SP) 
Endereço: R. Palestra Itália, 500 – Perdizes 
Horário: 21h (sexta); 16h e 21h (sábado); 15h e 19h30 (domingo) 
Preço do ingresso: R$ 75,00 a R$ 220,00

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