Marighella – A retratação histórica nos cinemas

Marighella - O Filme | Foto: Divulgação

Marighella, filme baseado na biografia Marighella – O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo, escrita por Mário Magalhães e lançada em 2012, é a primeira direção de Wagner Moura no universo da sétima arte, apresentando a fase final da vida do político, escritor e guerrilheiro Carlos Marighella (1911-1969) como fio condutor do filme que tem a duração de duas horas e trinta e cinco minutos.

O personagem, interpretado com muita entrega pelo cantor Seu Jorge,foi rotulado como o inimigo número um do Brasil por liderar a “Ação Libertadora Nacional”, um dos maiores movimentos de resistência contra a ditadura militar, ditadura que explicitamente ocorreu na década de 60 no Brasil. Sua escolha foi a de uma resistência radical ao terrorismo de Estado que torturava, produzia fake news, matava, sumia com corpos e tinha o poder de censura. Mas todos os que combatiam tais ações eram batizados como terroristas.

O rotulado como líder terrorista fora Marighella, mesmo que o seu poder de retórica seja de defesa, tanto em seus discursos ainda possíveis de serem escutados com áudios originais ou em seu livro Minimanual do Guerrilheiro Urbano. Disseminar ideias contra a ditadura militar sempre foi o sinônimo de perseguição e mortes.

No filme, Marighella não é uma figura santificada ou colocada em um altar como um mito histórico e sim extremamente humanizado, com diversas situações dialéticas como amar o filho e ter que mantê-lo distante por conta das perseguições, amar uma mulher, porém poupar riscos e viver sozinho, ou não ter vontade de matar, mas revidar levando na prática a fala dita por seu Jorge em um plano médio que mostrava seus olhos lacrimejando após a morte de companheiros: “Agora vai ser olho por olho, dente por dente”.

Com o orçamento de cerca de dez milhões de reais, a obra não deixa nada a desejar. Com atuações impecáveis, é visível a preocupação do diretor que também é ator com a entrega de todo o elenco, que assim como as trilhas de letras fortes e batidas no estilo Mangue Beat, hip-hop e MPB, a obra apresenta uma estética visceral com câmeras na mão, presença do elenco e cortes de ação. Tão visceral quanto os discursos e a vida de Marighella. Figura que viveu entre a liberdade e o estar enclausurado em esconderijos, em uma fuga constante por agir de acordo com seus ideais, mas aos poucos vendo o cerco fechando sem o apoio da mídia e sem alcançar a grande massa.

O filme é de extrema importância para a atualidade, para a renovação de temas nas grandes mídias que há pouco tempo começaram a pensar em debates mais amplos com olhares de distintas classes e cores. O assunto ditadura sempre teve uma grande mancha de narrativas e nomes que viraram corpos enterrados e registrados como indigentes.

Um debate que fora despertado é que a pele de Seu Jorge é mais escura do que a de Carlos Marighella. Se o cinema brasileiro ou até mesmo internacional for rememorado em seu histórico, sempre fora uma arte elitista de  um mercado feito e consumido por maioria branca, com muito racismo, blackface e heróis brancos. Com pessoas de pele negra interpretando sempre os mesmo arquétipos de segundo plano. O filme fora chamado de Racista pelo presidente da Fundação Cultural Palmares, Sergio Camargo via Twitter, porque

segundo ele “O ator negro faz um terrorista”.

No hoje, ainda passam pessoas pela paulista segurando a bandeira nacional e pedindo por intervenção militar, tortura aos diferentes e morte aos que resistem em sobreviver. Sabendo do caso Marighella, fica a pergunta: Ainda existe terrorismo? Wagner Moura afirma veemente que as mais de 600 mil mortes por covid são vítimas de terrorismo, assim como as que passam fome sem nenhum tipo de auxílio.

Quem está à procura de entretenimento e pode ir ao cinema, vá. Artistas e obras como a do baiano Wagner Moura são importantes por trazer pontos de vista diferentes e por defenderem o retorno do total funcionamento da Ancine e seus fomentos, sem cortes e censura.

Gustavo Guimarães Gonçalves

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