O Ovo de Ouro resvala no clássico, mas necessita dinamismo para atingir seu ápice

O Ovo de Ouro | Foto: Leekyung Kim

Jovem dramaturgo que vem construindo obra contundente no teatro paulistano, Luccas Papp já tem em seu currículo títulos de peso, como O Jardim dos Sonhadores, Meninos e Meninas – O Musical e O Último Mafagafo entre uma série de outros títulos. Em 2018, ao estrear o drama 2 Palitos (ou A Fantástica Insensatez da Existência), Papp atingiu maturidade dramatúrgica impensada para seus então 26 anos de idade.

O Ovo de Ouro, em cartaz no Teatro do Sesc Santo Amaro, na zona sul da capital até o dia 15 de novembro é a prova de que o autor, de fato, é um dos destaques da dramaturgia contemporânea. Narrando uma passagem localizada durante o regime nazista de Adolf Hitler (1889-1945), Papp põe em cena um texto seriado e complexo que, a medida que se desenvolve, comprova a habilidade do autor na construção de uma história quase folhetinesca.

Levando à luz a figura dos sonderkommando, Papp promove um resgate na memória cultural focando sua dramaturgia não nas figuras que fomentaram o regime nazista, mas sim de suas vítimas em diferentes esferas.

Ao pôr em cena a figura do judeu Dasco Nagy, um jovem que se vê envolto na herança histórica da figura de um sonderkommando (judeus que eram obrigados a trabalhar nos campos de concentração auxiliando na morte e na limpeza dos corpos de outros judeus), Papp inicia um processo folhetinesco que angaria de imediato a identificação com o público.

Identificação esta que toma proporções massivas graças a figura luminosa de Sérgio Mamberti, ator que assume o papel de Dasco já na velhice e se encarrega do papel de contar as histórias do campo de concentração onde foi obrigado a trabalhar.

Mamberti constrói um Dasco carismático que ajuda no diálogo com o público e promove a digestão de um tema tão complexo. Na pele do melhor amigo de Dasco, Sándor, Leonardo Miggiorin também se sobressai com uma construção que, a despeito de correta, resulta tocante na relação dos amigos que fazem planos claramente frustrados para quando saírem dos campos de concentração.

Na pele do protagonista jovem, Luccas Papp também se sai bem na identificação do público, embora ainda repita cacoetes de seu trabalho anterior, o drama Nunca Fomos tão Felizes, de Dan Rosseto, quando deu vida a Frank, um jovem com a síndrome de tourette. Papp ainda guarda trejeitos que põem sua personagem em comparação direta com a criada por Rosseto.

Rita Batata, por sua vez, cresce no embate com Papp na pele da judia Judit, enquanto constrói registro mecânico na pele da jornalista que entrevista a versão mais velha de Dasco. Grande ator, Ando Camargo, por fim, rende menos que seus colegas. Ao optar por um registro histriônico e maniqueísta, o ator se mostra num tom aquém do adotado pela encenação de Ricardo Grasson.

O diretor constrói um espetáculo de tons soturnos que ainda necessita se arredondar para dizimar a impressão de cansaço deixada pela uma hora e meia de espetáculo. Falta dinamismo na encenação que peca na puerilidade das transições de cena e ao não assumir os portais propostos a partir do cenário de Kleber Montanheiro.

Quando se encaminha para o final (sublinhado pela luz morna de Wagner Freire e pela ótima trilha desenhada por L.P Daniel), o texto também cambaleia com soluções que flertam com o famoso “deus ex-machina”.

Com um elenco regular e um bom texto, O Ovo de Ouro é boa peça que resvala no teatro clássico, mas busca elementos do teatro contemporâneo que não são valorizados pela direção que ainda precisa injetar dinamismo no espetáculo que cumprirá segunda temporada em 2020 no Teatro Porto Seguro.

SERVIÇO:

Data: 21 de novembro a 15 de dezembro (quinta-feira a domingo)

Local: Teatro do Sesc Santo Amaro – São Paulo (SP)

Endereço: Rua Amador Bueno, 505 – Santo Amaro

Horário: 21h (quintas e sextas); 20h (sábados); 18h (domingos) 

Preço do ingresso: R$ 15,00 (meia) a R$ 30,00 (inteira)

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