Embora a pandemia do Coronavírus ainda esteja longe de chegar ao fim, o cenário cultural tem mostrado força e resiliência enquanto se aquece para uma volta gradual que, a bem da verdade, vem sendo ensaiada desde meados de novembro de 2020 por espetáculos como Protocolo Volpone e Simplesmente Clô.
Contudo, não é difícil compreender os motivos que fizeram de A Vela, espetáculo de Raphael Gama dirigido por Elias Andreato que chegou à rede na última quinta-feira, estrelada por Herson Capri e Leandro Luna, mais uma obra do vasto cenário virtual
Transmitido do palco do Teatro Claro Rio, no Rio de Janeiro, dentro de projeto que une a empresa mineira Usiminas com o Sesc Minas Gerais, o espetáculo segue disponível online até 03 de setembro, quando deixa a rede.
A escolha da produção de seguir pelo caminho digital não é só compreensível, como louvável, uma vez que há dificuldades reais de manter um espetáculo em cartaz em sua plena potência enquanto ainda não há um mercado completamente aquecido e o vírus ainda suscita a adoção de medidas de isolamento e distanciamento.
Contudo, se louvável e compreensível, a opção também prejudica a obra, que chega ao palco se ressentindo de maior imersão principalmente de seu elenco. Pelo menos na transmissão que chegou à rede no dia 19 de agosto, ainda faltava entrosamento entre os atores para que a história do embate entre um filho e seu pai, separados quando o patriarca não aceita a orientação sexual de seu filho único, permita mergulhos mais profundos.
Escrito por Gama, que faz em A Vela sua primeira incursão por obra de teor mais dramático, o espetáculo percorre caminhos poucos óbvios, principalmente ao propor um jogo saudosista entre as duas figuras antagonistas. A direção de Elias Andreato percorre com delicadeza essa proposta, sem jamais apelar para o melodramático.
Ainda que não surja em cena com toda a potência que sugere, A Vela se impõe como o melhor texto de Gama, dramaturgo que busca a conexão e a comunicação direta com o público por meio de linguagem direta em histórias de relação e situação.
Ainda que peque em certo tom professoral em passagens específicas – e com desfecho pouco envolvente -, Gama investiga a relação familiar por meio de diálogos ágeis, sem jamais apelar para a comédia rasteira, se comprovando dramaturgo de fina estampa elegante.
Capri e Luna, por sua vez, caminham por registros mais óbvios. A dupla faz pouco por suas personagens, optando por interpretações quase mecânicas. E é neste ponto que A Vela se ressente de um processo de imersão mais profundo.
O espetáculo tende a crescer uma vez que traçar caminho pela estrada teatral, entretanto, pela transmissão apresentada no dia 19 (responsável também por prejudicar o desenho de luz de Cleber Eli), A Vela dá a impressão de ser obra menor, com boa (e pertinente) que tende a crescer em cena. Quem viver….
SERVIÇO:
Data: 19 de agosto a 03 de setembro
Local: Canal do Teatro Claro Rio, do Sesc Minas, da Usiminas e da produtora PóloBH no YouTube
Horário: 24h
Preço do ingresso: Grátis