Stella Maria Rodrigues e João Fonseca elevam força de Alzira Power em nova montagem

Alzira Power - Foto: Divulgação

Um dos textos mais celebrados da obra do dramaturgo paulista Antônio Bivar (1939-2020), Alzira Power (1969) ganhou, na noite de ontem, 14, sua primeira montagem profissional no circuito carioca em mais de 20 anos no palco do Theatro Municipal de Angra dos Reis durante a 24ª edição da Festa Internacional de Teatro de Angra, a FITA, transmitida online em tempo real.

Sob a direção de João Fonseca, Alzira Power ressurgiu em contexto contemporâneo, com inserções de dados políticos e sociais que resultaram como retrato de temas como a pandemia do novo Coronavírus, a corrida pelas vacinas e o governo do presidente Jair Messias Bolsonaro (Sem Partido), ainda que com algumas informações já defasadas pela hard news brasileira.

O fato é que, independente da adaptação, também assinada por Fonseca, Alzira Power é texto que envelheceu bem, ainda que carregue alguns ranços setentistas que inspiraram, inclusive, desnecessária quebra de quarta parede num ato de exemplificar passagem fora dos padrões da revolução social vigente neste século.

Narrando o encontro inesperado entre uma solteirona aposentada com um vendedor de carros, que entra em sua casa por acidente, a peçapõe em discussão temas como a revolução feminista, o machismo, o preconceito com pessoas mais velhas, mas, acima de tudo, flagra uma revolução comportamental em plena década de 1970 que, embora já soe datada, ainda guarda traços modernos.

A dramaturgia de Bivar bebe da fonte nonsense da contracultura carioca da segunda metade do século XX, traçando o perfil das personagens à medida que o ritmo frenético do espetáculo se intensifica. A inteligência da direção de João Fonseca está em justamente respeitar este ritmo sem tentar impor uma assinatura própria. A obra de Bivar conduz o espetáculo em curva crescente, e o diretor segue a corrida, apostando em montagem minimalista e dando foco ao que de fato importa: a valorização do texto e do trabalho do elenco.

Marcando sua estreia no FITA antes de pensar em uma temporada, é sintomático que o espetáculo (transmitido online pelo canal oficial da Festa no Youtube) ainda precise de alguns acertos. o maior deles é o tom que André Celant imprime em seu Ernesto, personagem regado à caretice capitalista que serve como contraponto e antagonista à Alzira.

O ator ainda não encontrou o registro de força e fragilidade da personagem e, em cena, rende menos que sua colega, Stella Maria Rodrigues, que constrói uma Alzira enérgica e dominadora, sem jamais cair na caricatura ou no histrionismo.

É, inclusive, a figura de Rodrigues, uma das melhores atrizes de sua geração, que faz de Alzira Power um grande acontecimento teatral. a artista, que já havia dado lufada de ar fresco em clássicos como Solteira, Casada, Viúva e Divorciada, compilação de textos de nomes como Maria Adelaide Amaral, Regiana Antonini, Luis Arthur Nunes e Noemi Marinho, sob a direção de Alexandre Contini, e Cole Porter – Ele Nunca Disse que me Amava, de Charles Möeller e Claudio Botelho.

Carismática, a artista conduz com vitalidade a encenação, driblando a frieza de uma transmissão ao vivo, compreendendo não apenas a intensidade da personagem, mas também da dramaturgia de Bivar, fazendo de sua Alzira mais um grande momento de trajetória artística que já soma mais de três décadas.

Ainda que necessite de afinações, a nova encenação de Alzira Power é, como o título transparece, poderosa e com força de se tornar um dos grandes espetáculos da temporada carioca de 2021.

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