Tapa conserva caráter atemporal ao ensaiar tímido passo rumo ao teatro digital

Diálogos com os Personagens - Foto: Ronaldo Gutierrez

Seria leviano afirmar com todas as letras que Diálogos com os Personagens, solo apresentado no último sábado, 15, pelo grupo Tapa dentro do projeto Teatro Vivo em Casa, é a estreia da companhia carioca no universo do teatro digital. 

Embora tenha sido realizado para plateia remota com direito a uso de câmera como uma espécie de personagem para o contato com o público, Diálogos com os Personagens, monólogo estrelado por Brian Penido Ross, é passo tão tímido quanto bom do grupo rumo a essa nova linguagem, dando continuidade a outro primeiro passo dado em junho, quando a atriz Clara Carvalho protagonizou potente live cênica com o texto de A Mais Forte, de August Strindberg (1849-1912), dentro do projeto #EmCasacomoSesc da rede Sesc São Paulo.

Dirigidas por Eduardo Tolentino de Araújo, ambas as encenações contaram com a principal força motora do Tapa que é a de valorizar ao máximo a dramaturgia e o intérprete em encenação focada na combustão destes dois pilares do teatro. Tolentino leva para o online um experimento muito menos desbravador do que o movimento do Teatro Digital tem exigido daqueles que tentam desvendá-lo. E é aí que mora o triunfo da apresentação transmitida neste sábado.

Favorecido pelo fato de o projeto Teatro Vivo em Casa abrir as portas do Teatro Vivo, na zona sul da capital paulista, Tolentino pôde injetar os signos que ajudam a valorizar suas montagens, como o figurino e a ótima cenografia, além de iluminação sóbria que ajudou a sublinhar não apenas o bom texto, uma compilação de contos de Luigi Pirandello (1867-1936) que antecedem seu clássico Seis Personagens em Busca de um Ator (1921), mas também o trabalho de Ross.

Um dos intérpretes mais versáteis do Tapa, Brian Penido Ross injeta neste autor que recebe candidatos a se tornar personagens de sua obra um registro leve que beira a uma espécie de bonachão boa pinta, o que torna o diálogo do ator com o espectador direto da tela prazeroso numa encenação de pouco menos de meia hora.

O caráter enxuto da montagem também auxilia o espetáculo a soar, no fim das contas, um ótimo primeiro passo do Grupo Tapa rumo a transferir sua linguagem naturalista ao teatro digital que a medida em que avança nos experimentos cênicos, vem sofrendo da mesma onda de performances que, tal qual no teatro pré-pandemia tinham muito a dizer, mas muito pouco a comunicar.

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