Transmitido online, In Extremis triunfa ao apostar na tríplice básica do teatro

In Extremis | Foto: Hemerson Celtic

Peça que estreou há seis anos e, surpreendentemente, não recebeu a devida atenção do público e da crítica, In Extremis retornou à cena na noite desta terça-feira, 23, para compor a programação digital do Teatro Aliança Francesa, que, desde meados de 2020, vem realizando transmissões online de espetáculos iniciados a partir da Mostra de Repertório do Grupo Tapa.

A obra retorna aos palcos contando com a mesma equipe criativa de sua estreia há seis anos em uma das melhores transmissões do projeto encabeçado pelo teatro localizado na Vila Buarque, zona central da capital paulista, até o momento.

Em In Extremis, o dramaturgo inglês Neil Barlett se inspira em um encontro verídico entre o escritor e dramaturgo irlandês Oscar Wilde (1854-1900) com uma famosa cartomante inglesa do século XIX, Mrs Robinson para imaginar o que a dupla teria tratado neste encontro que antecedeu o fatídico julgamento que levou Wilde a prisão e lhe custou sua vida.

Vivido por Flávio Tolezani, Wilde é apresentado em cena como figura de comportamento pendular entre o ceticismo e o desespero crente de quem almeja uma salvação para um trágico futuro já traçado.

Já Robinson, interpretada por Daniel Infantini, caminha pelo mesmo cenário híbrido, entre uma charlatã e uma profissional que domina a ciência exata da natureza humana, frágil e amedrontada em busca de um conforto no misticismo, ainda que mergulhados em ceticismo.

O texto de Barlett (traduzido com fluidez assombrosa por Bruno Guida, que também assina a direção), constrói um cenário de mordacidade apelando para um humor sardônico e recheado de ironia, que é desenvolvido com precisão por Tolezani e, principalmente, Infantini, que faz de sua Mrs. Robinson uma figura tão carismática quanto assustadora, resultando numa personagem fascinante e propensa a permanecer no hall de grandes personagens da dramaturgia moderna.

Infantini tem timing preciso na construção da cartomante, que movimenta a obra e, aos poucos, inveja energia no Wilde de Tolezani, que consegue construir uma imagem sóbria do escritor sem grandes arroubos interpretativos, o que ajuda a valorizar não apenas o texto, mas o desespero crescente de sua personagem.

Mérito também da boa direção de Bruno Guida, que, a despeito de precisar adaptar a obra montada há seis anos para o universo online, pôs fé no trabalho de seus atores e na qualidade do texto, promovendo apenas uma manutenção do dinamismo da encenação original, focada no diálogo e no jogo de dois atores e na beleza plástica do cenário e adereços assinados por Tolezani e Marcelo Donato, respectivamente.

Essa beleza é ressaltada ainda pelo (ótimo) figurino idealizado por Infantini e pelo desenho de luz de Aline Santini, que passeia entre a sobriedade e a densidade evitando quaisquer exageros que rivalizem com a grandiosidade proposta pela encenação.

In Extremis chega ao universo online comprovando que, a despeito da premissa simples, um grande espetáculo (online ou não) ainda se faz com a tríplice básica de elementos do teatro: um bom texto, uma boa direção e o jogo de dois bons atores que, verdade seja dita, valorizados por uma boa transmissão, possivelmente darão nova vida útil ao espetáculo que merecia mais atenção em sua temporada original.

SERVIÇO:

In Extremis

Data: 23 de fevereiro a 10 de março (terças e quartas-feiras)

Local: Teatro Aliança Francesa, São Paulo – SP

Transmitido online via Zoom

Horário: 19h

Preço do ingresso: Grátis

Notícias relacionadas