Em seu maior ano, Prêmio Bibi Ferreira elege melhores do teatro musical e debuta no teatro de prosa com estranhezas

Premio Bibi Ferreira | Foto: Divulgacao

Criado em 2011 pelo ator e produtor Marllos Silva, o Prêmio Bibi Ferreira chegou em 2019 a sua sétima e maior edição com uma noite de gala realizada na noite de ontem, 24, no Teatro Renault, na Av. Brigadeiro Luís Antônio, em São Paulo.

Celebrizado com um dos maiores e mais importantes prêmios do teatro musical no Brasil, o Bibi Ferreira decidiu dar um passo além em seu desejo de se tornar um equivalente ao Prêmio Tony, o mais importante do teatro norte americano, e passou a premiar também o teatro convencional, chamado “teatro de prosa” ou, mais informalmente, “teatrão”.

Em seu primeiro ano laureando todos os espetáculos, o prêmio teve nada menos do que 45 espetáculos concorrendo dentro de suas 29 categorias (10 para peças, 19 para musicais) numa cerimônia de três horas de duração. Com direito a uma série de homenagens, entre elas o esperado tributo a atriz, cantora, diretora e produtora que dá nome ao prêmio, morta no início deste ano de 2019 aos 96 anos de idade.

Na busca da aproximação pelo Tony Awards, o Prêmio Bibi Ferreira decidiu laurear grandes produções que gerassem mídia e dessem ainda mais relevância ao troféu já sagrado na seara do teatro musical. E foi aí que surgiram as estranhezas, já apontadas anteriormente na divulgação da lista de indicados para o prêmio neste ano.

Com um largo caminho já percorrido dentro dos musicais, falta ao Bibi Ferreira ainda compreender melhor dentro de suas engrenagens a seara mercadológica do chamado teatro convencional. Ao limitar a presença de concorrentes a espetáculos que estivessem em cartaz em teatros de mais de 400 lugares, o prêmio assim limita seu poder, e abre a possibilidade da indicação de peças em cartaz há muito mais tempo do que geralmente se pratica.

Vencedora na categoria Melhor Peça, a comédia Baixa Terapia está em cartaz desde 2017, assim como Num Lago Dourado (2017) e Visitando Sr. Green (2015), indicadas em outras categorias. A possibilidade de mais espetáculos inéditos concorrerem também gerou uma concentração da categoria Melhor Dramaturgia, na qual concorreram Michelle Ferreira (por Uísque e Vergonha) e Julia Spadaccini (por A Porta da Frente).

Spadaccini saiu vencedora na categoria por um texto que não era necessariamente inédito – a despeito de ter recebido sua primeira montagem em São Paulo apenas em 2018) – e já fora indicado em 2014 ao Prêmio Shell.

A configuração das regras impediram que espetáculos de grande destaque entre 2018 e 2019 fossem indicados, gerando lacuna estranha na premiação. Títulos como A Profissão da Sra. Warren, A Golondrina, O Jardim das Cerejeiras, A Milionária, Mãe Coragem, Agosto, Condomínio Visniec e outros títulos expressivos ficaram de fora da premiação enquanto marcaram presença em cerimônias como Shell, APCA e Aplauso Brasil.

É claro que este, sendo o primeiro ano, deverá servir como um catalisador de tudo o que deu certo e o que deu errado, e é importante que um prêmio de tamanha projeção volte os olhos para o teatro convencional – assim como seria interessante prêmios acostumados a laurear o “teatrão” assumirem olhares menos preconceituosos para o teatro musical -, mas também é preciso compreender que a conjuntura do teatro paulistano se vale de diferentes componentes econômicos que nem sempre permitem temporadas expressivas em grandes teatros, mas nem por isso têm menos valor artístico frente a premiações.

OS PREMIADOS


Prêmio Bibi Ferreira

Apresentado por Miguel Falabella e Alessandra Maestrini, o Prêmio Bibi Ferreira também guardou surpresas interessantes entre seus vencedores. Matheus Solano dividir o prêmio de Melhor Ator com Luís Miranda não apenas foi surpreendente, como bastante justo. A dupla trabalha em rara sintonia para dar vazão ao besteirol de O Mistério de Irma Vap, sob a direção de Jorge Farjalla. Solano, inclusive, apresenta seu melhor desempenho cênico na desconstrução de qualquer vaidade cênica frente a sua persona televisiva.

Já Tuna Dwek levou a melhor na categoria Melhor Atriz Coadjuvante por seu espetacular desempenho em A Noite de 16 de Janeiro, dirigida por Jô Soares. Já a veterana Suely Franco desbancou as favoritas Denise Fraga (A Visita da Velha Senhora) e Mel Lisboa (Dogville) por sua solar interpretação em Quarta-Feira, sem Falta, lá em Casa, quando dividiu a cena com Eva Wilma (que não recebeu indicação).

Fábio Assunção, na categoria Melhor Ator Coadjuvante, e Jorge Farjalla, na categoria Melhor Direção, confirmaram o favoritismo levando para casa a estatueta. Assim como o figurinista João Pimenta (Dogville), o cenógrafo Marco Lima (O Mistério de Irma Vap) e o mago da luz César Pivetti (O Mistério de Irma Vap), vencedores em suas respectivas categorias.

MUSICAL

Prêmio Bibi Ferreira

Já na seara de musicais, as surpresas começaram desde o anúncio das indicações, com a ausência de Marisa Orth na categoria Melhor Atriz em Musicais por sua performance como Norma Desmond, em Sunset Boulevard – uma das melhores de sua carreira no gênero. Quem levou a melhor na categoria, inclusive, foi Larissa Luz, por sua impecável interpretação em Elza – O Musical, na pele da cantora do milênio.

Elza – O Musical, inclusive, saiu consagrada da premiação, com nada menos que cinco estatuetas nas categorias Melhor Direção (Duda Maia), Melhor Roteiro Original (Vinicius Calderoni), Melhor Arranjo Original (Letierres Leite) e Melhor Musical Brasileiro, tendo sido desbancado na categoria Melhor Musical pela franquia O Fantasma da Ópera.

Inclusive, a vitória de O Fantasma da Ópera foi uma das surpresas da noite, tendo o espetáculo importado desbancado títulos como As Cangaceiras – Guerreiras do Sertão, Billy Elliot, Natasha, Pierre e o Grande Cometa de 1812 e o supracitado Elza.

Na categoria Melhor Figurino, o multiartista Fause Haten levou a melhor pelo controvertido trabalho em Sunset Boulevard, desbancado o diretor Zé Henrique de Paula (por Natasha, Pierre e o Grande Cometa de 1812)  a dupla de figurinistas Lígia Rocha e Marco Pacheco (por Billy Elliot).

CERIMÔNIA POLÍTICA

Com transmissão ao vivo no Facebook, a cerimônia da sétima edição do Prêmio Bibi Ferreira sintomaticamente refletiu o momento político atual. Desde o número de abertura comandado pelos mestres de cerimônia Miguel Falabella e Alessandra Maestrini, até o discurso de agradecimento de nomes como Fábio Assunção e Tuna Dwek, a cerimônia abriu espaço para se falar, discutir, criticar e, claro, celebrar o legado de Fernanda Montenegro – atacada nas redes sociais pelo atual diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, Roberto Alvim.

Entre os números musicais, um dos destaques foi a celebração do musical A Noviça Rebelde, que contou com número protagonizado por parte do elenco original encabeçado por Kiara Sasso e Herson Capri, além de divertido protesto de Maestrini e Falabella pela não indicação de Marisa Orth ao prêmio.

Prêmio Bibi Ferreira

Confira abaixo a lista dos vencedores da sétima edição do Prêmio Bibi Ferreira, onde votam Ubiratan Brasil, Rogério Matias, Charlles Dalla, Miguel Arcanjo Prado, Luiz Amorim e Fabiana Seragusa:

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Peças

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MELHOR PEÇA

“Baixa Terapia” – Teatro em Família

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MELHOR ATRIZ EM PEÇA DE TEATRO

Suely Franco – “Quarta Feira, Sem Falta, Lá em Casa”

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MELHOR ATOR EM PEÇA DE TEATRO

Luis Miranda – “O Mistério de Irma Vap”

Mateus Solano – “O Mistério de Irma Vap”

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MELHOR ATRIZ COADJUVANTE EM PEÇA DE TEATRO

Tuna Dwek – “A Noite de 16 de Janeiro”

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MELHOR ATOR COADJUVANTE EM PEÇA DE TEATRO

Fabio Assunção – “Dogville”

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MELHOR DIREÇÃO EM PEÇA DE TEATRO

Jorge Farjalla – “O Mistério de Irma Vap”

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MELHOR CENOGRAFIA EM PEÇA DE TEATRO

Marco Lima – “O Mistério de Irma Vap”

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MELHOR FIGURINO EM PEÇA DE TEATRO

João Pimenta – “Dogville”

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MELHOR DRAMATURGIA EM PEÇA DE TEATRO

Julia Spadaccini – “A Porta da Frente”

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MELHOR DESENHO DE LUZ EM PEÇA DE TEATRO

Cesar Pivetti – “O Mistério de Irma Vap”

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Musicais

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MELHOR MUSICAL

“O Fantasma da Ópera” – T4F Entretenimento

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MELHOR MUSICAL BRASILEIRO

“Elza” – Sarau Agência de Cultura Brasileira

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MELHOR ATRIZ EM MUSICAIS

Larissa Luz – “Elza”

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MELHOR ATOR EM MUSICAIS

Beto Sargentelli – “Os Últimos Cinco Anos”

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MELHOR ATRIZ COADJUVANTE EM MUSICAIS

Inah de Carvalho – “Billy Elliot”

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MELHOR ATOR COADJUVANTE EM MUSICAIS

Pedro Arrais – “As Cangaceiras”

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REVELAÇÃO EM MUSICAIS – MANTO MARÍLIA PÊRA

Cia Nissi – “Rua Azuza”

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MELHOR DIREÇÃO EM MUSICAIS

Duda Maia – “Elza”

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MELHOR DIREÇÃO MUSICAL EM MUSICAIS

Daniel Rocha – “Annie”

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MELHOR ARRANJO ORIGINAL EM MUSICAIS

Letieres Leite – “Elza”

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MELHOR COREOGRAFIA EM MUSICAIS

Katia Barros – “Annie”

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MELHOR CENOGRAFIA EM MUSICAIS

Matt Kinley – “Sunset Boulevard”

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MELHOR FIGURINO EM MUSICAIS

Fause Haten – “Sunset Boulevard”

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MELHOR VISAGISMO EM MUSICAIS

Beto França e Feliciano San Roman – “Sunset Boulevard”

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MELHOR ROTEIRO ORIGINAL EM MUSICAIS

Vinicius Calderoni – “Elza”

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MELHOR LETRA E MÚSICA EM MUSICAIS

Elton Towersey e Vitor Rocha – “Se Essa Lua Fosse Minha”

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MELHOR VERSÃO EM MUSICAIS

Fernanda Maia e José Henrique de Paula – “Natasha, Pierre e O Grande Cometa de 1812”

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MELHOR DESENHO DE LUZ EM MUSICAIS

Corry Pattak – “Sunset Boulevard”

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MELHOR DESENHO DE SOM EM MUSICAIS

Gabriel D’Angelo – “Annie”

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