Contundente, versão brasileira de A Cor Púrpura se impõe como ótimo drama musical

A Cor Púrpura | Foto: Divulgacao

Um dos maiores clássicos do cinema ocidental, o filme The Color Purple (1986) chegou aos palcos quase 20 anos após a estreia nos cinemas da obra que rendeu a Whoopi Goldberg sua primeira indicação ao Oscar de Melhor Atriz. Ao estrear na Broadway em 2004, o espetáculo – produzido por Oprah Winfrey – se tornou um dos grandes blockbuster dos palcos americanos, e recebeu 10 indicações ao Prêmio Tony.

Tratando de temas como o empoderamento feminino, racismo, feminismo e a valorização da mulher preta, o musical reestreou em 2015 na Broadway levando o Prêmio Tony de Melhor Revival e comprovando o alinhamento da premiação a questões sociais em meio a efervescência da discussão acerca de questões raciais na indústria do entretenimento norte americano, incendiado por campanhas como a que gerou a hashtag Oscar so White.

E é em meio a este mesmo tipo de discussão que, enfim, estreia no Brasil A Cor Púrpura, oito anos após a anunciada produção protagonizada por Camila Pitanga, Milton Gonçalves e Vanessa Jackson que nunca chegou a sair do papel. Sob a direção de Tadeu Aguiar, o espetáculo cumpre temporada na capital paulistana até o dia 16 de fevereiro, no Theatro Net SP.

Narrando a sofrida história de vida da jovem Celie, uma garota que é abusada pelo pai, tem seus filhos afastados e é obrigada a se casar com um homem que a agride constantemente, o espetáculo conserva, em sua versão nacional, o mesmo brio e força da versão que aportou nos Estados Unidos em 2015 e se tornou um dos maiores sucessos da temporada.

Diretor que vem emendando grandes trabalhos no teatro musical, Tadeu Aguiar consegue com A Cor Púrpura construir não apenas um de seus melhores espetáculos, mas também uma das obras mais contundentes em cartaz na atual temporada paulistana.

Afeito a histórias de intensidade emocional, é de Aguiar a direção de outros grandes espetáculos do quilate de Quase Normal (2012), Love Story (2016) e Bibi, Uma Vida em Musical (2018). Portanto é sintomático que, ao colocar em cena a triste história de vida de Celie, que o profissional consiga azeitar o espetáculo sem jamais assumir o risco de amaciá-lo.

É do diretor também o mérito de selecionar um dos melhores e mais homogêneos elencos da atual temporada de musicais. Intérpretes como Analu Pimenta e Lílian Valeska conseguem alguns de seus melhores momentos em cena interpretando a esganiçada Squeak e a intimidadora Sofia, respectivamente.

Assim como Alan Rocha, que escolhe safo caminho cômico e que até ameaça perder a mão a medida que o espetáculo corre, e um irretocável Sérgio Menezes. Ator que já se provou um dos grandes de sua geração, Jorge Maya resulta correto na pele do suposto pai da protagonista Celie, mas derrapa ao dar vida ao pai do antagonista Mister, numa interpretação que exibe alguns cacoetes do ator, preso ainda a sua (espetacular) interpretação de Sancho Pança no musical O Homem de La Mancha (2015).

Contudo, o destaque mesmo fica para Letícia Soares, atriz que já havia se comprovado grande atriz ao surgir como coadjuvante do poético Se Essa Lua Fosse Minha, de Victor Rocha e Elton Towersey. Em A Cor Púrpura, Soares tem a chance de se mostrar uma atriz versátil que, embora tropece eventualmente na construção de sua Celie jovem, atinge total e completa segurança a medida que a história se desenvolve, mostrando-se uma das atrizes mais maduras de sua geração.

O jogo cênico que constrói com Menezes e com Flávia Santana (que gradualmente cresce em cena) é tocante e alicerça a interpretação de seus colegas, entre eles Ester Freitas, que, na pele da irmã mais nova de Celie, Nettle, ainda precisa de mais maturidade para dar conta do jogo de seus colegas.

Apesar de detalhes insignificantes, que em nada ofuscam o brilho do espetáculo, A Cor Púrpura se sobressai como uma das obras mais harmônicas da temporada, seja pela supracitada direção requintada de Tadeu Aguiar (com menção honrosa para o excelente cenário pensado por Natália Lana e os figurinos de Ney Madeira e Dani Vidal), seja pela tradução de Artur Xexéo que, embora ainda deixe transparecer que alguma coisa se perca na versão brasileira, vem se mostrando hábil versionista e autor teatral.

Enfim, se impondo como um dos espetáculos mais contundentes em cartaz na capital paulistana, A Cor Púrpura é musical que comprova que é possível unir temas sociais – como a essencial representatividade – a uma qualidade teatral para além de títulos e rótulos.

SERVIÇO:

Data: 06 de dezembro de 2019 a 16 de fevereiro de 2020 (sexta-feira a domingo)

Local: Theatro Net SP – São Paulo (SP)

Endereço: Rua Olimpíadas, 360 – Vila Olímpia (Shopping Vila Olímpia)

Horário: 20h30 (sextas); 17h e 21h (sábados); 19h (domingos)

Preço do ingresso: R$ 34,50 (meia) a R$ 75,00 (inteira) (balcão) | R$ 85,00 (meia) a R$ 170,00 (inteira) (balcão nobre) | R$ 110,00 (meia) a R$ 220,00 (inteira) (plateia)

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