OPINIÃO: Ainda é (muito) cedo para decretar o fim de Roberto Alvim

Roberto Alvim | Foto: Divulgação

Foi com (rara) rapidez e eficiência impressionantes que a cúpula do governo federal exonerou e substituiu Roberto Alvim na pasta da Secretaria Especial da Cultura. Após ser acusado de plagiar em seu discurso uma declaração do alemão Joseph Goebbels, famoso por ter assumido o cargo de Ministro da Propaganda do regime nazista de Adolf Hitler entre 1933 e 1945.

A saída de Alvim, rapidamente substituído pela atriz Regina Duarte, para muitos, denotou o fim da carreira política e artística do diretor fundador do Club Noir, companhia de teatro que se sobressaiu como uma das mais importantes e atuantes do teatro paulistano entre o final dos anos 2000 e metade dos 2010.

Pudera, nem a cadeira de Alvim esfriou, outro nome já a ocupava, neste que deve ter sido o movimento mais rápido e eficiente de troca de secretários desde o início do governo de Jair Messias Bolsonaro (sem partido). Contudo, a despeito do que a opinião popular deva achar, é ainda muito cedo para decretar o fim político e/ ou artístico de Roberto Alvim e, por associação, de sua esposa, a atriz Juliana Galdino.

O fato de o ator ter decidido se virar contra parte da classe artística, não invalida o fato de que Alvim tem bons serviços prestados às artes cênicas brasileiras, e angariou uma gama de fãs não apenas no período de maior atividade de seu Club Noir, mas também, e principalmente, à frente da militância artística a favor da candidatura e do governo de Jair Messias Bolsonaro.

Apenas para citar nomes que declaradamente apoiaram o ex-candidado do PSL à Presidência da República, estão no páreo Djavan, Raimundo Fagner, Carlos Verezza, a supracitada Regina Duarte, Susana Vieira, Theo Becker, entre uma gama de outros nomes dos mais variados campos artísticos (com destaque insuspeito, claro, para a música sertaneja).

Susana Vieira, que está longe dos palcos desde a encenação de Uma Shirley Qualquer (2017), pode se animar a montar um Samuel Beckett ao lado do diretor, assim como Carlos Vereza, que desde a montagem de Iscariotes: A Outra Face (2017) também não sobe a um palco.

É importante entender que a presença de Alvim nas artes cênicas talvez ainda seja uma constante se o ex-secretário especial da cultura souber descansar sua imagem a ponto de exercer algum fascínio profissional em antigos e possíveis novos parceiros, principalmente no teatro paulistano, antro do bolsonarismo artístico, e mesmo no teatro musical, outro celeiro farto de apoiadores não apenas do Presidente da República, mas também do ex-secretário.

É importante lembrar que, mesmo antes de assumir a secretaria, o diretor já estava envolvido em projetos que devem sair do papel ainda este ano, entre eles a montagem de Macbeth, a clássica tragédia de William Shakespeare adaptada pelo diretor para ser protagonizada por Malvino Salvador.

A morte artística (e mesmo política) de Alvim não foi decretada com sua exoneração, mesmo porque ainda não se sabe que tipo de papel ele pode vir a exercer num futuro próximo no campo político, seja pleiteando uma vaga como deputado ou vereador nas próximas eleições, sendo se aliando a algum candidato a prefeitura da cidade de São Paulo, que, se eleito, o coloque no comando da secretaria da cultura da cidade. 

Tudo é possível, principalmente se o ex-secretário tiver a inteligência de resguardar sua imagem ao longo deste ano. A única impossibilidade é achar que a ameaça da guerrilha cultural prometida pelo diretor está fora dos planos futuros. Quem viver…

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