Idealizador do Prêmio Bibi Ferreira, Marllos Silva reflete impacto do Coronavírus no mercado das artes

Marllos Silva ao lado de Bibi Ferreira durante cerimônia do prêmio em homenagem a artista idealizado pelo produor

A pedido do Observatório do Teatro, o produtor, diretor e ator, idealizador e principal realizador do Prêmio Bibi Ferreira, Marllos Silva refletiu o atual momento e o impacto das necessidades de contenção do novo COVID 19 (Coronavírus) no mercado das artes. Confira abaixo: 

Para entender o tamanho do impacto que o COVID-19 gera no teatro musical no país, eu vou dividir em duas esferas: a econômica e a artística.

Vou começar pela pandemia Artística. O Brasil sempre teve a expressão do teatro musical na sua história, e sempre sofrendo muita influência externa, desde os índios que aqui viviam, passando por Arthur Azevedo e o teatro de revista, até os dias de hoje quando São Paulo passou a assumir o posto de centro de produção de teatro musical no país, tendo forte influência dos musicais da Broadway.

Foi este período mais recente que colocou o Brasil como grande produtor do gênero e nos transformou num celeiro de artistas de teatro musical, passando a exportar atores para diversos países como: México, Alemanha, Espanha, EUA.

Entretanto, é importante dizer que não apenas atores, mas diretores, coreógrafos, técnicos, e o próximo passo seriam as obras dos dramaturgos que passaram a ter espaço para mostrar as suas obras, um trabalho mais demorado que precisa de um período de maturação maior.

Podemos destacar que a última década, com o apoio das leis de incentivo, os musicais cumpriram um forte papel na formação de plateia. Produções têm como foco o público. E assim, foi construído o teatro musical no país com forte apelo popular, mesmo em períodos de crise econômica. A partir do tema de formação de plateia, eu insiro o segundo impacto causado pelo COVID-19, este um impacto mais claro ao grande público: O Econômico.

Uma produção emprega em média entre 80 e 120 pessoas diretamente, entre atores, técnicos, produtores, músicos, camareiras, costureiras. Todos profissionais autônomos. O musical é apresentado em um teatro que emprega entre 15 e 30 pessoas diretamente, entre administrativo, segurança, indicadores, zeladores, produtores, limpeza e manutenção.

A cadeia teatral ainda impacta indiretamente em outros segmentos – imprensa, estacionamentos, restaurantes, agência de viagens, pipoqueiro, designers, empresas de comunicação visual, venda para grupos, hotéis, transportes (ônibus, táxi, aplicativos) – que segundo a Fundação Getúlio Vargas, seria superior a 1 bilhão de reais, apenas na economia da cidade de São Paulo. 

O COVID-19 nos impôs um novo modo de viver, mas seria de extrema importância que os órgãos públicos se atentassem a algumas idiossincrasias que o mercado teatral possui – e aqui vou estender a toda a cadeia teatral – os shoppings, igrejas, lotéricas, restaurantes, hotéis, academias que hoje estão fechados, ao término da quarentena, ao abrirem suas portas, poderão funcionar normalmente, entretanto, os teatros têm uma grande  concentração de pessoas por um período determinado (a duração de cada espetáculo), e isso fará com que a população evite ir aos teatros por um período superior a quarentena, por receio de resultados ainda da pandemia.

Sendo assim, peço ao poder público que se atente a toda a cadeia teatral quando pensarem em ações, os profissionais autônomos merecem atenção, mas não apenas os artistas, todos aqueles que citei anteriormente, pensem também com carinho nos teatros e espaços culturais de todos os tamanhos, que são importante elemento desta cadeia, caso contrário, corremos sério risco de termos mais teatros sendo fechados, e não há espetáculo sem palco.

O teatro musical é a união de diversas áreas artísticas, e nos ensinou que apenas com a união e o trabalho em equipe, conseguimos realizar um grande espetáculo, é isto que o mundo precisa. Para encerrar, fiquem em casa, nós vamos superar este momento. É difícil, desesperador, mas vamos superar.

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