Onda de peças online ajuda a redimensionar importância do teatro filmado

Xanadu dirigido por Miguel Falabella também está disponível online

É sintomático que, em meio a quarentena preventiva de contenção ao novo COVID-19 (Coronavírus) aconselhada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o papel social do artista passe a ser repensado. 

Como já mencionado em artigo publicado neste portal, a classe artística foi a primeira não apenas a aderir a campanha – necessária para impedir a rápida disseminação do vírus -, mas foi a que de maneira mais enfática pôs seu trabalho à disposição gratuitamente e de forma patriótica para incentivar o público a permanecer em isolamento social.

Shows realizados gratuitamente online, leituras de textos, apresentações de peças impedidas de estar em cartaz num espaço cultural, entre outras formas, fizeram com que o público recebesse um amplo material artístico e original para se entreter ao longo deste período de isolamento, ainda sem data certa para terminar.

Uma das ações que tem recebido maior adesão – embora ainda lute contra certa resistência – é a onda de espetáculos filmados e disponibilizados de forma gratuita online. Obras do quilate dos musicais A Gaiola das Loucas e Xanadu (na foto acima), dirigidos por Miguel Falabella, Gypsy, Um Violinista no Telhado, Avenida Q e 7 – O Musical, dirigidos pela dupla Charles Moeller e Cláudio Botelho, e blockbusters do naipe de O Fantasma da Ópera, Os Miseráveis, Wicked e Chicago chegaram ou ganharam holofote na rede graças a pandemia.

Fora do âmbito dos grandes musicais, peças como Alair e A Tropa, de Gustavo Pinheiro, Música para Cortar os Pulsos, de Raphael Gomes, Ato a Quatro, dirigido por Bruno Perillo, Os Sertões – A Terra, do Oficina, entre outros, também chegaram à rede como forma de entreter o público enclausurado.

Essa gama de espetáculos filmados ajuda a repensar o valor e a importância de ter este material disponível online. Ainda que esteja distante de competir com a experiência do teatro in loco, o teatro filmado serve como excelente material de estudo e, principalmente, estímulo para o conhecimento de obras que, não estando mais em cartaz, atendem para a fugacidade do instante teatral, fazendo com que sua encenação se perca na memória daqueles que tiveram a chance de assisti-la.

Ao disponibilizar essas obras online e na íntegra, a ideia de democratização de acesso se torna ainda mais palpável uma vez que, tendo a plena consciência de que o instante da troca entre plateia e público é insubstituível, um expectador pode querer conferir ao vivo as emoções que sentiu ao assistir o espetáculo na rede, ou mesmo buscar reviver os momentos do teatro ao assistir o espetáculo online, As duas possibilidades existem com força.

Na Broadway, espetáculos musicais como Hamilton, Moulin Rouge, Meninas Malvadas, entre outros, chegaram ao mercado alternativo do teatro filmado (e disponibilizado em redes de acesso) durante suas temporadas, o que não influenciou negativamente suas bilheterias, mas ajudou a disseminar os espetáculos para outros lugares do mundo, que já contarão com um público interessado em assistir possíveis montagens locais.

No âmbito da memória a importância cresce ainda mais. É importante que haja, para consulta pública, um trabalho como Dissecar uma Nevasca, por exemplo. A obra, originária de um intercâmbio cultural entre Brasil e Suécia, contou, sob a direção de Bim de Verdier, a história da rainha Cristina que, embora não tenha uma ligação direta com a cultura política brasileira, apresentou uma junção entre das culturas até então sem uma ligação histórica popular.

O mesmo se pode dizer das obras e nomes como José Celso Martinez Corrêa, Antunes Filho, Augusto Boal, Fauzi Arap,Gerald Thomas, Bibi Ferreira, Aderbal Freire Filho e outros diretores que ajudaram a construir uma linguagem própria para o teatro brasileiro. O mesmo se pode dizer de nomes como Daniela Thomas, Sandra Corveloni, Victoria Ariante, Bia Lessa, Rafael Gomes e outros nomes que constroem seus nomes com base na reformulação do trabalho de diretores passados.

A onda de disponibilização do teatro online talvez ajude a colocar a cultura das artes cênicas do palco em outro patamar, não apenas de democratização de acesso, mas também de estudo e importância.

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