Carol Costa: Nascida para o Estrelato

Carol Costa na pele de Roxie Hart, assassina estelar de Chicago | Foto: Pedro Dimitrow

Eu sempre quis ver meu nome nos jornais”. Frase-chave para compreender Roxie Hart, uma das assassinas protagonistas de Chicago, musical de John Kander, Fred Ebb (1928-2004) e Bob Fosse (1927-1987), pode ser lida também como uma boa dica para compreender a trajetória de Carol Costa, atriz, cantora e bailarina que interpreta a personagem na nova montagem do espetáculo em terras tupiniquins desde o dia 26 de janeiro, quando iniciou temporada no palco do Teatro Santander, em São Paulo.

Diferente da clássica personagem criada por Gwen Verdon (1925-2000) na década de 1970 e imortalizada nos cinemas por Renée Zellweger no início dos anos 2000, contudo, Costa nunca buscou a fama instantânea a qualquer custo. “Eu sempre tive muito pé no chão, nunca me deslumbrei e nem deixei ninguém a minha volta ficar deslumbrado”, garante a artista que, com quase 15 anos de trajetória dentro do teatro musical acaba de abocanhar sua primeira protagonista em uma grande produção.

“A Roxie, junto à Velma, é uma das personagens mais importantes do teatro musical. Elas são Glinda e Elphaba, de Wicked. São muito fortes, muito potentes. Personagens que qualquer atriz de teatro musical gostaria de fazer, porque mostra o quanto você é versátil, porque tem que cantar, dançar e ter uma excelente veia cômica e dramática, é uma maratona”.

A própria conquista da personagem foi uma maratona, não apenas pelo extenuante número de audições que um musical do gênero exige, mas também pela construção de carreira à qual a artista se dedicou desde que aos seis anos de idade, ao substituir uma prima na vaga de uma academia de dança, se viu encantada pelo mundo das artes e decidiu assumir que dedicaria sua vida a esse mercado.

“A partir dali eu fiquei para sempre”, relembra. “A dança me abriu várias portas. Foi ela que me levou para o teatro, depois para a Oficina dos Menestréis do Oswaldo Montenegro que, numa audição, me deu uma bolsa, e onde eu aprendi tanta coisa. Eu fiz teste de dança e passei para ser atriz aos 12 anos de idade na TV Globo, num programa da Angélica. Com 15 anos, comecei a vir para São Paulo fazer testes para os musicais, e foi quando eu percebi que todo mundo era muito bem preparado, porque no Rio não tinha essa atuação tão forte, o nicho aqui era outro”.

Apesar dos sucessivos nãos que levou de produtoras do quilate da então mega poderosa Time 4 Fun, Costa seguiu focando na dança para tentar um lugar ao sol que veio, ironicamente, ao interpretar uma das Loiras de Hollywood arregimentadas pela fulgurante Mama Rose no segundo ato em Gypsy, considerado um dos principais musicais da era de ouro da Broadway moderna.

A montagem brasileira, assinada pela dupla Charles Möeler e Claudio Botelho, foi o primeiro trabalho da atriz no meio e, a partir daí, nunca mais parou, ainda que, ao longo de sua história, precisasse sempre seguir se afirmando como uma profissional séria.

“Durante a temporada carioca do musical, eu descobri que ganhava menos que todo mundo, e eu era cover de personagem. Eu me lembro que quando fomos negociar a temporada de São Paulo, fui me informar com a responsável pela parte financeira, que me disse que eu ganhava menos porque não tinha passado no teste de canto. Eu fazia o mesmo que todo mundo e até um pouco mais porque era cover, e ganhava menos porque eu não havia passado no canto. Foi quando eu percebi o quanto nós somos colocados em caixinhas”.

E foi dessas caixinhas que a artista tentou se libertar ao longo dos 13 anos em que se manteve ativa – de forma ininterrupta – embalando um musical no outro. O primeiro em São Paulo após Gypsy foi o blockbuster Mamma Mia! como swing (a artista responsável por cobrir todos os outros bailarinos do coro caso necessário e até assumir uma personagem se for preciso) e, a partir daí, compôs o elenco de montagens como A Madrinha Embriagada como ensemble, até subir um degrau maior na pele da apresentadora Hebe Camargo (1929-2012) em Hebe – O Musical.

Na montagem, dirigida por Miguel Falabella, Costa dava vida à apresentadora no período da juventude, dividindo a cena eventualmente com Débora Reis. A partir deste trampolim, a atriz se viu em destaque em espetáculos como Annie – O Musical, As Cangaceiras, Guerreiras do Sertão e, claro Chaves – Um Musical, que lhe rendeu seu primeiro Prêmio Bibi Ferreira como atriz coadjuvante, coroando a subida, degrau a degrau, da trajetória da artista.

Em cena em ‘Chicago” | Foto: Caio Gallucci

“O segredo é você estar disponível e pronto para as oportunidades. Eu nunca fiquei desempregada porque sou uma boa bailarina? Sim, sou, mas não é só por isso. Eu nunca falei não para um teste porque eu não queria ser só bailarina, ou porque eu não queria determinada personagem. Eu entendo quem não queira ser coro, por exemplo, cada um tem uma história e trajetória, mas a minha é essa: eu não nego nada”, garante.

A artista também analisa o que vê como preocupante no futuro do teatro musical. “Eu fiz Annie com 30 crianças que eram prodígios, cantavam maravilhosamente bem, existe uma evolução das escolas, do mercado. Mas eu acho que também é preciso que haja um direcionamento de carreira. É preciso ter pé no chão, não se deslumbrar. Hoje em dia eu vejo que os jovens são muito talentosos, mas só querem ser protagonistas. E que ótimo, é preciso ter ambição, sim! Mas não existe espaço para você ser protagonista o tempo inteiro”.

“O amor pelo o que você faz te direciona dentro desse meio. Claro que tem quem queira ser só protagonista, e tudo bem, se você pode escolher, maravilha. Eu não posso. Eu vivo disso, entendeu? Eu sou protagonista hoje, amanhã não sei. Claro que quando você vira protagonista dificilmente as pessoas vão te olhar como coro, mas é preciso estar aberto a isso também”, explica enfatizando a necessidade de, mais uma vez, “estar disponível”.

“Eu não escolhi fazer só musical da Broadway, e não escolhi fazer apenas o musical brasileiro, eu fui navegando. Eu fiz teste pra ‘As Cangaceiras’ porque amava a equipe criativa, eu era doida pra trabalhar com aquelas pessoas, mas não sabia se passaria porque eu não tinha perfil, meu currículo vinha de musicais muito diferentes, e eu passei. E passei porque, sou depois, fui uma das poucas pessoas que preencheu todos os requisitos: dança, canto e atuação. E fiquei feliz de sair da minha zona de conforto. Fui me abrindo às oportunidades, e, claro, as pessoas me deram oportunidades.”

“Eu acho engraçado que quando eu fiz a Chiquinha, muita gente do elenco não conhecia minha história. E vinham falar sobre o fato de eu ganhar mais, sem saber que é normal você, às vezes, fazer um papel e ganhar mais. Eu gostaria que todo mundo ganhasse igual, eu venho do coro e o coro rala pra caramba. Aí fui lá, conversei com a pessoa, contei minha história, falei do que eu já tinha feito, e ela entendeu, mas, voltamos à velha história: nós somos colocados em caixinhas, depende de a gente se permitir ou não ficar nelas”.

E, na pele da assassina Roxie Hart, Costa pretende ainda sair de outras caixinhas. Um dos projetos da atriz é um espetáculo originado de um grupo de estudos ministrados pelo diretor Sergio Módena, que a convidou para compor o grupo por achá-la uma atriz “curiosa”. “Nem todo mundo é curioso. Às vezes você se acomoda. Eu sou curiosa, quero fazer teatro, musical, streaming, tudo”.

“Em Annie eu fazia a bandida loirinha com a voz caricata, o que é muito fácil pra mim. Cair nesse papel sempre é muito fácil, mas você precisa se posicionar para o que você quer da sua carreira, como quer ser visto. Os jovens hoje querem só protagonistas e eu sempre digo: vá fazer aulas, vá se preparar, esteja pronto e tenha muita, muita paciência. Eu entendo quem nunca fez coro, mas é tão enriquecedor quando você passa por tudo”.

Sem data para estrear, o projeto com Modena segue em fase embrionária enquanto Costa cumpre sessões de quinta-feira a domingo neste que é considerado uns dos musicais mais difíceis do teatro norte americano por não usar de nenhum tipo de subterfúgio. Cenário e figurinos são simples e não exigem trocas, tudo está focado no grupo de atores que vai contar a história de duas assassinas dentro do showbizz dos anos 1920.

Chicago é um musical de forma, mas esse nosso Chicago é teatro! E eu tô tão feliz porque a forma como foi conduzido, construído, desde o dia de audição eu sabia que seria foda. É uma peça com muita verdade cênica., e às vezes no musical isso se perde um pouco. Mas em Chicago acontece tudo ao mesmo tempo. Nós contamos essa história olho no olho”.

Chicago cumpre temporada no Teatro Santander, no Shopping JK Iguatemi, de quinta-feira a domingo com sessões às 21h (quintas, sextas e sábados), às 17h (sábados) e às 15h e 19h (domingos). Os ingressos custam de R$ 37,50 a R$ 340,00. Costa divide a cena com Emanuelle Araújo, o vencedor do Prêmio Tony Paulo Szot, Eduardo Amir, Lílian Valeska, Lucas Cândido e grande elenco.

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