Levando fé na democratização do teatro online, Moacir Chaves encerra terceira temporada de solo virtual

Moacir Chaves | Foto: Divulgação

Quando  a pandemia do então novo Coronavírus se instalou  mundo afora sem dar sinais de que seria mera onda passageira, o diretor carioca Moacir Chaves se uniu a parceira de tantos trabalhos Karen Coelho e à dramaturga Juliana Leite para buscar, antes de qualquer coisa, uma forma de permanecer ativo e artisticamente vivo durante o período.

Surgiu então a possibilidade de ensaiar Onde Estão as Mãos, Esta Noite, peça criada para expor as dores e os questionamentos acerca do cotidiano num cenário de isolamento social no qual o país foi jogado como principal forma de combater a pandemia, e que cumpriu bem sucedidas temporadas ao longo de 2020 e início de 2021.

“Tudo correu de uma maneira muito tranquila, muito natural. Quando começamos a ensaiar, logo no começo da pandemia, não pensávamos em apresentar online. Nossa intenção era simplesmente trabalhar, ocupar o tempo de maneira produtiva. Com pouco tempo de trabalho, percebemos que poderia ser interessante apresentar o que estávamos fazendo, que o espaço no qual ensaiávamos poderia ser bom para a peça”, diz o diretor que, ao lado das colegas, estreou o solo como um dos pioneiros a desbravar o universo online com uma obra criada especialmente para aquela linguagem. 

Apesar dos desafios da modalidade que, embora já estivesse em pesquisa no seio de grupos ao redor do Brasil, se popularizou pela necessidade tanto artística quanto financeira de uma série de artistas ao redor do país, Chaves enxergou com parcimônia os desafios.

“A maior facilidade durante o processo foi algo muito prosaico, na verdade. A facilidade de ensaiarmos todos de nossas casas, não precisarmos nos deslocar para o local de ensaio. O processo foi muito facilitado, também, pelo fato de termos, eu e a Karen Coelho, uma história de trabalho juntos. Nossa comunicação foi muito tranquila por isso, apesar das dificuldades inerentes a um ensaio virtual, à distância. Não houve qualquer grande dificuldade, afora a tristeza enorme que compartilhávamos todos os dias por conta da absurda tragédia que estávamos, e continuamos, vivendo”.

Dentro deste cenário de criações digitais, uma série de questionamentos acerca de uma nomenclatura surgiram, culminando sempre em questão chave dentro de uma parcela da classe teatral. Afinal, essa linguagem é teatro, ou não? Chaves faz coro à ala que não acredita nesta linguagem como uma expressão essencialmente teatral.

“Não é teatro, apesar de poder ter muitas características do teatro. A principal, a meu ver, é ser a apresentação feita ao vivo, cada sessão ser uma experiência única, com uma plateia específica, que tem parte da responsabilidade na possível qualidade da troca efetuada. Nossa experiência nos mostrou isso com muita clareza, a partir das conversas que tivemos, e continuamos a ter, com os espectadores, antes e depois da apresentação da peça”, analisa o diretor que, apesar da posição, não concorda com a discussão.

“Acho que é uma discussão irrelevante, essa. O que deve ser levado em conta, a meu ver, é se uma determinada obra, apresentada virtualmente, é capaz de estabelecer uma relação verdadeira com os receptores. Essa resposta, creio, não tem como ser uniforme. Dependerá de cada projeto específico e seu alcance”.

Encerrando sua terceira temporada online – após passar por Mostras e festivais ao longo do último ano – neste domingo, Onde Estão as Mãos, Esta Noite marca a estreia de Chaves no universo online, mas não deve permanecer como sua única empreitada. Estão nos planos do diretor a adaptação de antigos projetos para o formato, principalmente solos.

“Eu me ateria aos monólogos que já encenei, porque a concisão e concentração do trabalho talvez seja o que mais me interesse nesse meio. Falo especificamente de um meio como o Zoom, ou similar, não uma produção audiovisual complexa. Falo de uma produção feita à distância, sem qualquer contato presencial entre os profissionais da equipe”, diz.

Não só pretende dar continuidade às investigações, como enxerga a possibilidade de se manter produzindo neste cenário mesmo depois do fim da pandemia. “A possibilidade de alcançar pessoas às quais não teríamos acesso é algo realmente espetacular. A questão é que seria necessário um financiamento para isso. Sem dinheiro, podemos até conseguir elaborar o trabalho, mas a difusão seria tremendamente difícil, para o fim específico que me interessa: chegar a pessoas que não teriam condições de fruir um trabalho de teatro fora do meio virtual”, finaliza.

Onde Estão as Mãos, Esta Noite cumpre mais três sessões até domingo, 21, sempre às 20h. A transmissão acontece via Zoom e os ingressos são gratuitos e reservados através do e-mail oficial maosaoteatro@gmail.com.

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