Foi antes mesmo de subir aos palcos que Patricia Gasppar chegou a TV. A então garotinha de 10 anos de idade fazia companhia a seu pai, o jornalista Carlos Gasppar, na apresentação de Brasil, Esse Desconhecido, programa veiculado pela mesma TV Cultura de São Paulo que, vinte anos depois, daria à futura atriz a chance de popularizar uma das personagens mais icônicas de sua carreira, a folclórica Caipora, no hit infantil das décadas de 1990 e 2000, Castelo Rá-Tim-Bum, criado e dirigido por Cao Hamurguer.
“O Castelo foi um marco na minha vida e na de todos que fizeram parte desse lindo projeto. Cada vez que descobrem que sou a Caipora é uma comoção geral”, conta Gasppar que, geralmente fantasiada e cheia de maquiagem, não é reconhecida pelos fãs da forma convencional.
“Claro que a Caipora por estar ‘camuflada’ em sua pele vermelha, cabelos espetados e vestes de bichos não faz com que eu seja com que eu seja reconhecida tão facilmente. Muita gente me reconhece pela voz, engraçado, né? A voz sempre me conduzindo a grandes alegrias”, pontua a atriz que, em cena, também toma as vezes de cantora, como é o caso de Piso Molhado, espetáculo que estreia sexta-feira, 05 de julho, no Teatro Cacilda Becker, na Lapa.
Na peça e Ed Anderson, dirigida por Mauro Baptista Vedia, Gasppar vive uma cantora decadente que guarda uma obsessão por sua coleção de aranhas, mantidas numa caia de papelão. “A Selma é uma cantora da noite, uma lutadora, como são as cantoras de boate. Ela poderia ter sido uma estrela de sucesso, mas não é. É uma looser que vive entre a frustração, a culpa, a fantasia e a paixão. Mas tem humor, é claro. E na boate encontra outros seres solitários como ela, que são personagens de uma cidade grande e que, de certa maneira, estão presos em algum tempo perdido”.
A atriz também não esconde certa identificação com a personagem. “Sempre me identifico com os personagens que faço, sabe? Adoro a mistura que acontece entre personagem e atriz. Uma ‘pororoca’, de fato!”, se diverte a atriz que, embora nunca tenha subido ao palco na condição única e exclusiva de canora, já soltou muito a voz em cena.
Entre os últimos espetáculos em que colocou sua voz a serviço da canção estiveram Florilégio Musical II – Nas Ondas do Rádio (2013), ao lado de Carlos Moreno e Mira Haar, seu solo Na Nuvem (2019) e o musical Roque Santeiro (2017), este último, musical brasileiro com canções compostas por Zeca Baleiro baseado na história criada por Dias Gomes para o teatro e que, depois foi levada para a TV, “foi um deleite”, comenta. Contudo, a despeito de soltar a voz em cena com desenvoltura, Gasppar nunca enfrentou um musical da Broadway, como os que vêm sendo montados no Brasil nas últimas duas décadas.
“Uma vez me chamaram pra uma audição do Wicked. Adorei a experiência. Mas não passei na final. Achei natural. As pessoas que cantam em musicais tem uma técnica incrível e muitas vezes específica. E não tenho isso. Me interessa sim fazer musicais mas talvez esse esquema Broadway não combine muito comigo”, atesta.
Com exceção de Roque Santeiro – O Musical, os outros dois espetáculos citados acima guardam uma peculiaridade, como grande parte dos espetáculos dos quais a atriz participou: todos tinham a direção de Elias Andreato, diretor e ator que construiu carreira brilhante no teatro nacional.
O encontro aconteceu na década de 1990, quando a dupla se conheceu e passou a se aproximar. A amizade foi nascendo, se solidificando e criando uma parceria profissional que, entre outros projetos, gestou Futilidades Públicas, o primeiro solo da atriz, encenado em 1993 sob a direção de Andreato. “Me deu a régua e o compasso. Foi um encontro incrível que a gente pode repetir muitas vezes. Encontrar parceria artística é um encontro de amor, é uma relação a ser preservada, cuidada. E a gente segue assim!”, garante.
Prestes a cumprir curtíssima temporada com ingressos gratuitos, Patricia Gasppar segue olhando para frente, estudando convites para novos espetáculos e sem jamais descartar projetos que a desafiem, como um show solo, por exemplo a condição de cantora. “Pode ser um projeto legal”, se entusiasma, enquanto relembra sua relação com a música e o canto.
“Adoro cantar, adoro música, sou movida por canções. Mas sou uma atriz que canta. E não o contrário. Na minha família a gente sempre ouviu, cantou, tocou, então a minha vida é toda feita com trilhas sonoras reais e imaginarias, e ter a chance de levar para meu trabalho essa experiência me faz feliz”, finaliza.
Piso Molhado fica em cartaz de 05 a 28 de julho, de sexta a domingo, no Teatro Cacilda Becker, na Lapa, zona oeste da capital. OS ingressos são gratuitos e podem ser retirados com uma hora de antecedência. As sessões acontecem às 21h (sextas e sábados) e 19h (domingos).