Apagão cultural promovido por governo Bolsonaro não gerará produções teatrais autossuficientes

Jair Bolsonaro e Mario Frias | Foto: Divulgação

Publicada no romper do primeiro dia deste ano de 2021, a notícia de que o governo federal não autorizaria a captação já acertada de uma série de projetos culturais via Lei Rouanet caiu como uma bomba no setor cultural em mais uma manobra lida pelo mercado como uma nova ofensiva do governo de Jair Messias Bolsonaro (sem partido) contra o meio.

A não aprovação de projetos já acertados com patrocinadores dá banho de água fria em grandes produções que dependiam apenas do aval da Secretaria Especial da Cultura e do Ministério do Turismo para iniciar o processo de produção, o que pode culminar num afogamento do mercado que corresponde a 2,64% do PIB do Brasil e que movimenta profissionais das mais diversas áreas e setores.

Contudo, uma leitura equivocada do significado deste futuro “apagão” tem tomado de assalto as redes sociais, onde pessoas – artistas, inclusive – acreditam que a falta de patrocínio subsidiados pelo aporte federal pode acenar para o retorno de uma forma de produção utilizada em meados do século XX, quando artistas e companhias conseguiam montar espetáculos através de empréstimos de grandes bancos e pagar tanto a dívida quanto os salários de todas as produções com o valor arrecadado na bilheteria.

Ainda que artistas como Juca de Oliveira, um dos principais defensores do meio de produção em questão, tenham, de fato, subsídio para produzir seus próprios espetáculos contando apenas com o retorno do público, é constatação óbvia que esta não é a realidade da grande maioria da classe teatral.

Não apenas pelo alcance limitado do teatro, que não transforma, necessariamente, um ator em uma personalidade famosa, capaz de movimentar multidões, mas também, e principalmente, pela realidade cultural e econômica do Brasil do século XXI, um país completamente diferente daquele de meados da segunda metade do século passado.

Economicamente já não é viável que uma produção se banque apenas com a bilheteria por questões que tanto Oliveira quanto os entusiastas desta forma de produção parecem não levar em conta (por ignorância ou má fé). O preço das pautas (aluguéis) de teatros e salas de espetáculo para manter um espetáculo em cartaz, o custo de produção que responde diretamente à inflação, que onera não apenas a folha de pagamento, mas o material para a confecção de cenários, figurinos e aluguel de luz, som e outros ítens essenciais para a montagem de um espetáculo.

É importante ressaltar também que o Brasil é um dos principais epicentros da globalização, por sua própria natureza colonizada, portanto as plateias que lotavam os teatros para assistir os espetáculos e possibilitaram o sustento de grandes companhias e grandes espetáculos, já não existem mais, pulverizadas em formas cada vez mais amplas de entretenimento de fácil acesso, o que torna inviável esta forma de produção fora dos desejos saudosistas e nada realistas daqueles que ainda acreditam que teatro e cultura se fazem por lazer, e não como um movimento sócio econômico que corresponde a fatia significativa da arrecadação federal.

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