Com trabalhos pontuais, Fernanda Young construiu dramaturgia contundente

Fernanda Young | Foto: Divulgacao

Romancista, roteirista, apresentadora, atriz, dramaturga e profissional multimídia, Fernanda Young saiu abrupta e precocemente de cena na madrugada deste domingo, 25, antes de ter tempo de retornar aos palcos com o drama Ainda Nada de Novo, de Carlos Canhameiro, ao lado da atriz Fernanda Nobre.

Young deixou obra contundente na literatura brasileira que merece revisão urgente, além de ter criado séries que ajudaram a revolucionar o humor televisivo no Brasil. Entretanto, a profissional teve passagens muito pontuais e espaçadas pela dramaturgia, o que é não apenas uma surpresa – visto sua atividade incessante de criação –, mas uma pena.

A artista estreou como dramaturga (e atriz nos palcos) em 2008, com a peça A Ideia, hilário monólogo dadaísta que tratava com autodeboche as acusações de uma possível egotrip por parte de sua multifacetada carreira. Young conseguiu construir uma peça que dialogava não apenas com sua obra e sua vida, mas também com a ânsia de genialidade e mediocridade da sociedade e da crítica careta que não compreendeu sua metalinguagem.

No mesmo ano, adaptou para os palcos Vergonha dos Pés, seu primeiro romance com toques de autobiografia e ficção, e conseguiu transpor para a cena a linguagem friccionada que lhe deu régua e compasso para construir longa e sólida obra literária que, agora, com sua partida, poderia render boas obras teatrais.

Não seria difícil imaginar títulos como À Sombra das Vossas Asas, Carta para Alguém bem Perto e O Pau adaptados para a cena. O contundente romance Tudo que Você não Soube, inclusive, pode ser lido como um meio de processo entre a literatura e a dramaturgia frente à genialidade assumida de Young, que pretendia que um de seus melhores trabalhos, Aritmética, fosse adaptado para o audiovisual, sem ter tido tempo de encarar o projeto.

Com um argumento inédito pronto, não será surpresa se a série Surtadas na Yoga receber o tratamento devido para estrear nos palcos, como era o desejo de sua autora que também assinava seu melhor trabalho como atriz na série. Mesmo os livros que reunia seus poemas, o doído Dores do Amor Romântico e o confessional A Mão Esquerda de Vênus guardam grande potencial dramatúrgico.

Ao sair de cena precocemente aos 49 anos, Fernanda Young deixa monumental obra que, se bem aproveitada, lhe dará uma sobrevida extensa em forma de dramaturgia e mesmo no audiovisual. A inquietude artística de Young merece.

Notícias relacionadas