Dois meses após acenar para censura, Mário Frias põe em prática malha fina ideológica

Mário Frias põe em prática malha fina ideológica - Foto: Marcos Corrêa

Em junho, ao assumir o cargo de Secretário Especial da Cultura, substituindo a atriz Regina Duarte, que permaneceu menos de um semestre no cargo e foi exonerada graças a entrevista desastrosa para a CNN Brasil, na qual minimizou a tortura e as mortes durante o período da ditadura militar e da pandemia do novo Coronavírus, Mário Frias acenou, em bate-papo com o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), a censura de produções culturais de temática LGBTQI+ que se inscrevessem em editais de apoio federal à cultura.

“Não adiante. O patrão quer uma linha estética e essa linha estética vai ser privilegiada”, declarou em entrevista transmitida pelo canal oficial do deputado investigado na CPI das Fake News.

Agora, por meio de ofício amparado pelo decreto 10.449, de 07 de agosto de 2020, Frias supervisionará editais, chamamentos públicos e outros instrumentos do poder público que, antes de entrarem em vigor, deverão ser submetidos à Secretaria e a pasta do Turismo, da qual a Secretaria é subordinada.

Supervisionando editais desde sua publicação até a escolha dos vencedores, contratações e exonerações, Frias já deu o primeiro aceno para o processo de censura que pretende pôr em vigor a partir dos próximos meses.

A ação vai de encontro a uma suposta lista produzida por Eduardo e Flávio Bolsonaro de funcionários públicos e artistas que se considerem antifascistas remete ao macarthismo praticado pelo senador Joseph Raymond McCarthy (1908-1957) que criou verdadeira lista negra na Hollywood da década de 1950.

Controlando órgãos como o Iphan e a Ancine, Frias terá o poder de vetar obras artísticas que, por algum motivo, não estejam dentro do crivo ideológico do poder, além de dar continuidade a uma espécie de perseguição iniciada na gestão do diretor Roberto Alvim, exonerado do cargo após fazer discurso alusivo ao nazismo.

É temerária a posição de Frias graças a suas ações, como a de institucionalizar a briga ideológica que travou com o humorista Marcelo Adnet após o ator realizar sátira de vídeo em que o secretário propunha uma suposta valorização dos “heróis nacionais” como peça de propaganda da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), órgão que criticou publicamente o humorista.

Agora, resta aguardar o posicionamento frente a uma linha ideológica do governo às obras de arte que precisarão passar por seu crivo. Quem viver…

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