Essencial para o teatro infanto-juvenil, Ilo Krugli sai de cena e deixa repertório que merece atenção

Ilo Krugli em Historias de Lencos e Ventos | Foto: Divulgacao

Diretor teatral, ator, figurinista e artista plástico argentino radicado no Brasil há quase 60 anos, Ilo Krugli saiu de cena na tarde de sábado, 07, aos 89 anos de idade, vítima de um infarto. O profissional, que dedicou seus mais de 50 anos de carreira artística para criar e manter viva uma linguagem de valorização do teatro infantil, deixou legado que merece não apenas menção honrosa, mas, principalmente, revisão crítica e novas montagens.

Dentro do estupendo grupo Vento Forte, criado em 1974, Krugli criou uma série de espetáculos que fizeram do teatro infantil mais do que um simples programa de distração infantil aos fins de semana à tarde. O diretor injetou em suas obras linguagem pop e do teatro adulto que não apenas entretinha, mas também nivelava o público infantil por cima, sem jamais menosprezar sua inteligência.

Mais do que textos, as encenações do diretor tinham vigor raro no gênero, principalmente após sua chegada a São Paulo, quando trouxe toda a trupe Vento Forte e se instalou, em 1980, num casarão no Itaim Bibi, zona sul da capital, onde muitos artistas em início de carreira tentaram espaço para desenvolver uma linguagem cênica própria.

Ainda que tivesse (raras) incursões pelo teatro adulto (com base, principalmente, na figura e na obra do poeta espanhol Federico García Lorca), o grupo Vento Forte, capitaneado pela figura de Krugli desde sempre e até sua morte, se tornou célebre por levar para o universo infantil tanto a obra de autores como Ariano Suassuna, quanto textos inéditos no qual já falava, com anos de antecedência, de temas como o que viria a ser chamado bullying, ou aceitação ou as dificuldades sociais de jovens e adolescentes.

Portanto, inspirado pela morte do artista, seria importante que a sua obra voltasse a ganhar holofotes que jamais deveria ter perdido, mesmo ao se situar numa espécie de underground infantil, se recusando a fazer parte o ciclo de obras caça-níqueis de teatros e circuitos culturais e, principalmente, comerciais.

Obras como Sonhos de um Coração Brejeiro Naufragado de Ilusão (1978), O Mistério das Nove Luas (1979), Caminhadas (1984), Labirinto de Januário (1985) e Histórias que o Eco Canta (1993), isso sem contar, é claro, a atemporal História de Lenços e Ventos (1974), obras que fazem e sempre farão do nome de Ilo Krugli atemporal dentro do teatro infantil, esse gênero tratado sem o devido tamanho que merece.

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