Em 2014, antes de subir ao palco para estrelar a elogiada montagem da Cia. Triptal de Abajur Lilás, de Plínio Marcos (1935-1999), Fernanda Viacava se embrenhou numa série de pesquisas sobre o mundo da prostituição (pano de fundo da peça escrita em 1969 pelo dramaturgo santista) e deu de cara com Filha, Mãe, Avó e Puta (2008), autobiografia da escritora e prostituta Gabriela Leite (1951-2013).
A história da mulher que, aos 22 anos, decide abandonar a Faculdade de Filosofia da USP para se tornar prostituta fascinou a atriz, que viria a se deparar com o mundo da prostituição mais uma vez dois anos depois com a montagem de Memórias (não) Inventadas, adaptação de textos do norte americano Tennessee Williams no qual Viacava dava vida à prostituta Berthe.
“Eu via as mulheres, não a profissão em si. No Abajur tinha aquela mulher que era mãe e estava longe do filho pra trabalhar, e no Memórias era aquela mulher já desgastada da vida, que se segurava nas memórias para ter algum tipo de vida, mas nenhuma falava da prostituta em si, era uma mulher numa condição ruim de trabalho”, conceitua Viacava que, seis anos após se deparar com a história de Leite, decidiu levá-la para o palco.
“Eu tinha o desejo de fazer desde 2014, mas também tinha o medo de fazer um monólogo. Eu achava muito solitário, então o projeto foi ficando na prateleira. Mas aí em 2019 comecei a pesquisar sobre o que eu queria falar, o que fazer e decidi enfim pôr esse espetáculo pra jogo”, relembra.
A atriz procurou então Malú Bazán, diretora argentina radicada no Brasil que nos últimos anos tem se especializado na condução de espetáculos baseado em figuras femininas. São de Bazán espetáculos como Alice – Retrato de Mulher que Cozinha ao Fundo (2017), O Corpo da Mulher como Campo de Batalha (2017) e Aproximando-se de A Fera na Selva (2018) e Soledad (2019), entre outros.
A partir do contato com Bazán, Viacava iniciou os contatos com outras profissionais para dar vazão ao espetáculo ainda sem nome e que não será apenas uma adaptação da autobiografia de Gabriela Leite, mas sim um espetáculo baseado na vida e nas ideias da ativista pelos direitos das prostitutas, responsável pela luta a favor da regulamentação da profissão.
A ficha técnica ainda será composta pela dramaturga e roteirista Caroline Margoni (Dedo Podre) e pela produtora Elaine Bortolanza diretora da DASPU e amiga de Gabriela Leite, que, além de atuar com principal fonte de pesquisa para o espetáculo, assinará a realização do espetáculo.
Em fase embrionária e de pesquisa, o espetáculo ainda não tem data para estrear e, mesmo se não houvesse a pandemia do novo Coronavírus, Viacava garante que não teria pressa no processo. “Estamos nos encontrando semanalmente pelo Zoom e fazendo um processo de pesquisa sobre a vida e a obra da Gabriela”. Porém, a atriz não descarta, no futuro, abrir o processo para o público de maneira remota, como tem acontecido com uma série de produções. Quem viver…