Idealizada para o digital, comédia Presente de Grego adapta Guerra de Tróia para tempos modernos

Presente de Grego - Foto: Divulgação

Em meados de março, quando a pandemia do novo Coronavírus paralisou o mercado cultural e impediu a produção de novos espetáculos graças à política de isolamento e quarentena instalada como principal meio de combate à pandemia, Gal Spitzer se preparava para comemorar os dois anos e meio de sucesso de sua comédia, Ex Bom é Exumado, em cartaz no Teatro Santo Agostinho.

Típico vaudeville que marcou a estreia da bailarina e atriz no campo da direção e da dramaturgia, Ex-Bom saiu de cena deixando uma plateia cheia e prestes a ganhar um sucessor. A atriz já dava os primeiros passos na dramaturgia de Presente de Grego, leitura moderna dos acontecimentos da Guerra de Tróia, que ganharia os palcos ainda este ano.

Na obra, um homem milionário e sem filhos estabelece uma competição para decidir, entre seus dois sobrinhos, quem levará sua herança. Com personagens típicos do vaudeville paulistano, como um mordomo cômico e um político aproveitador, o espetáculo narra as estripulias dos dois sobrinhos para se comprovar merecedores da herança do tio.

Isolada e impedida de subir ao palco, Spitzer decidiu então se render ao teatro digital, mas, ao invés de seguir o caminho mais fácil, adaptando sua comédia bem sucedida, decidiu que contaria a história ainda inédita através de um novo viés.

Com o subtítulo Se Zeus Quiser e a Quarentena Deixar, a nova versão de Presente de Grego narra um prólogo aos acontecimentos estabelecidos pela dramaturgia de Spitzer. Com a disputa já estabelecida, a encenação flagra todos os participantes e seus acompanhantes numa reunião remota com cada um isolado em seu espaço graças à pandemia do novo Coronavírus.

“É uma pausa, uma espécie de adendo ao texto original. Como o início do espetáculo é um percurso, uma passagem de tempo com as pessoas se deslocando para cumprir o desafio do tio, a proposta foi usar o tema que já existia num processo de quarentena”, explica Spitzer, que volta a assinar a direção de um espetáculo nesta obra digital e enfrenta um dos maiores desafios das comédias online: fazer a dinâmica sem o público.

“É bem complicado pensar que vamos fazer sem ouvir a risada, que é um som bem comum para todo o elenco. Durante o ensaio estamos tratando como se fosse TV, há uma mistura com o audiovisual que queremos propor”, conceitua a artista, que não esconde o receio com a novidade. “As ferramentas são todas desconhecidas, e eu sinto que cada ensaio é um grande workshop, estamos aprendendo todos juntos, e a percepção é muito boa. O único senão é que nem todo mundo se vê e acabamos contracenando com o nada, com a imaginação, então o maior desafio tem sido esse: se localizar, é muito desafiador”.

Com elenco formado por nomes como Blota Filho, o vencedor do Prêmio Bibi Ferreira Danilo de Moura, a musa da pornochanchada Débora Muniz, Silvio Toledo, Carla Pagani, Ernando Tiago e a própria Spitzer, a Presente de Grego – Se Zeus Quiser e a Quarentena Deixar é, na concepção da dramaturga, uma comédia leve.

“A ideia é deixar a coisa mais leve, queremos que as pessoas se distraiam e se identifiquem com situações que elas mesmas estão vivendo. O humor de verdade vem dessa capacidade de rir da gente mesmo para que as pessoas se sintam um pouco melhor e esse clima de tragédia seja amenizado. E isso é importante, uma boa comédia é a que faz com que você desligue do mundo lá fora, dos problemas, é essa a intenção”, finaliza.

Presente de Grego – Se Zeus Quiser e a Quarentena Deixar tem pré-estreia agendada para dia 03 de setembro às 21h pela plataforma de reuniões remotas Zoom e com ingressos vendidos via Sympla e sessões ciceroneadas pelo comediante Guilherme Uzeda e sua personagem Tia.

Elenco da peça Presente de Grego – Foto: Divulgação

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