Idealizador do Prêmio Bibi Ferreira, Marllos Silva reage às acusações de racismo de sua oitava edição: “Não vou admitir”

O produtor Marllos Silva | Foto: Caio Gallucci

O produtor e idealizador do Prêmio Bibi Ferreira, Marllos Silva, reagiu, por meio de post publicado em seu perfil oficial no Facebook, às acusações que a premiação vem recebendo desde o final de sua oitava edição. Nas redes sociais correm posts em que a produção do prêmio é taxada de racista.

As acusações surgem pelo fato de a oitava edição do prêmio ter enfileirado nove indicações a profissionais negros, das quais apenas a atriz Letícia Soares saiu vitoriosa por sua performance no musical A Cor Púrpura – O Musical, sob a direção de Tadeu Aguiar.

Atores e atrizes como Isabel Fillardis, Analu Pimenta, Maurício Xavier, Alan Rocha, Sérgio Menezes e Larissa Noel indicados a categorias de atuação por papéis principais ou coadjuvantes por espetáculos como Dona Ivone Lara – O Musical, Madagascar – Uma Aventura Musical e A Cor Púrpura – O Musical não conseguiram um prêmio, assim como o dramaturgo Elísio Lopes Jr., indicado pelo texto de Dona Ivone Lara – O Musical.

Em resposta às acusações, Silva publicou texto em que reflete sobre anos anteriores do prêmio, sobre outras premiações teatrais e sobre informações erradas e mentiras disseminadas nas redes. Confira abaixo o pronunciamento completo:

Acordei hoje sendo chamado de racista por ter criado um prêmio que indicou 15 profissionais negros e premiou uma única profissional negra, e segundo alguns a profissional só foi premiada para não parecer racismo velado, e que agora estamos em novos tempos e isso não é aceitável. 

Uma chuva de mensagens e postagens cheias de desinformação e ataques infundados correm pelas redes sociais e whatsapp que me obrigam a tomar uma atitude. 

Em primeiro lugar não foram 15 indicações a profissionais negros, mas 09 indicações a profissionais negros um número menor, mas ainda assim um número muito maior e expressivo comparado a outros anos e principalmente se comparado a outras premiações. Não podemos misturar indicações a produções com indicações a profissionais.

Estou acostumado com o não agrado quando saem listas de indicados e premiados, é do dia a dia do Prêmio. O que não vou admitir é chamarem o Prêmio ou os jurados de racistas ou que tenham pacto narcisista. 

Vou fazer algo que pouco me orgulha, mas parece que neste momento em que alguns egos querem se mostrar e levantarem discursos com causas pessoais, é preciso mostrar dados e abrir os olhos do entorno para que não idolatrem bezerros de ouro construídos de egos inflamados.

Temos diversos prêmios teatrais – ainda bem – cada um com a sua característica e a maioria com categorias semelhantes, pesquisem quantos negros estiveram indicados em uma mesma edição ou mesmo indicados nos últimos anos? 

Quantos dão espaço para a comunidade LGBT+, premiando pessoas Trans colocando-as em lugar de destaque no palco como anfitrião entregando prêmios? Talvez vocês se surpreendam em como o Bibi dá este espaço! O Bibi é o Prêmio da diversidade. 

Voltando especificamente a acusação de racismo. É um desserviço usar a luta da população negra para defender o próprio ego e atacar profissionais. Eu teria vergonha de tomar tal atitude. Dizer que uma atriz, que se dedicou anos em estudo e preparação, só recebeu o reconhecimento pelo seu trabalho apenas para que não parecesse racismo velado é de uma canalhice sem tamanho. Não há outro nome para tal atitude. É desrespeitoso. Não só com a profissional premiada, mas com todos os outros indicados.

Os profissionais foram indicados pelos seus trabalhos não pela sua cor de pele. Respeite o trabalho das pessoas, respeite a história de todos os profissionais que foram indicados e premiados, já que não respeita todos os profissionais, respeite ao menos os irmãos de cor que apresentaram trabalhos excepcionais. 

Uma indicação a um Prêmio é o reconhecimento de um trabalho, é destacar o trabalho de um profissional. Pense um pouco antes de atacar um profissional da mesma area que a sua.

E para finalizar. Lembre se que o número de profissionais em cartaz é muito maior que o número de indicados. E por isso a importância de celebrar os 09 profissionais negros indicados. 

Muitos trabalham, alguns são indicados e apenas um pode ser premiado, mas não significa que os outros sejam menos importante ou mereçam ser renegados. Uma indicação é um Prêmio. Parem de menosprezar indicações. E aprendam a reconhecer as vitorias nas batalhas.

E acima de tudo. Estudem sobre o tema antes de sair atacando aleatoriamente. Os números que se apresentam na cerimônia são os indicados a Melhor Musical, e não a Melhor Ator. Então parem de criar monstros achando que um ator não se apresentou porque foi estrategicamente excluído por ser negro ou uma ação de racismo estrutural.

Ataques com argumentos fracos enfraquecem a luta e já é muito difícil construir lutando contra todas as dificuldade e ainda ter que lidar com o fogo amigo, fica mais difícil. Respeitem a história de quem está ao lado do front e parem de atirar para o lado.

Notícias relacionadas