Levando fé no diálogo, Paulo Fernando Góes estreia web talk show para celebrar personalidades do teatro carioca

Paulo Fernando Góes | Foto: Divulgação

Quando a pandemia do Coronavírus causou uma verdadeira quebra do mercado de cultura no Brasil, ainda em meados de 2020, com a (necessária) adoção de ações de isolamento e quarentena preventiva, o comunicador Paulo Fernando Góes foi obrigado a adiar os planos de expansão de sua revista #INCITARTE e da startup Quero Teatro, ambos voltados exclusivamente para o mercado teatral (com foco específico no Rio de Janeiro, mas com abertura para outros estados e países).

Com o congelamento do mercado e, por consequência de seus projetos, Góes precisou se reinventar, mas sem nunca deixar o teatro de lado. Com o modesto reaquecimento do mercado, o comunicador decidiu reunir sua paixão pelo teatro carioca com a arte que domina muito bem: a do diálogo. 

Nasceu assim o Festival Olhar para Frente, um talk show pensado para a web e jogando luz sobre o trabalho de 23 personalidades essenciais para o teatro, tanto no Rio quanto no resto do país. Gravado em encontros esporádicos com os convidados, o programa online perfila as 23 carreiras e joga um foco no possível futuro do teatro e do mercado cultural no Brasil.

“Eu acredito que uma conversa muda a vida. Meu lugar no teatro é a plateia e meu olhar, de um curioso. É essa curiosidade que trago pras entrevistas e como todos os meus entrevistados têm muito conteúdo e vivência, tem sempre uma lição pra tirar”, conceitua Góes.

“Muitas vezes assisti na TV entrevistas de nomes do teatro que admiro muito e não havia uma pergunta sequer sobre sua carreira teatral. O entrevistador tentava sempre cavar histórias engraçadas ou só falava de trabalhos da TV. Isso é natural do veículo, na TV você fala para milhões, mas graças a Deus hoje a gente tem esse espaço democrático da Internet onde se pode criar conteúdo que não vai bombar nem viralizar mas vai reverberar lindamente em poucos e bons”, diz.

Foi com o intuito de investigar carreiras e pensando na diversidade dos ofícios dentro do mercado teatral que o comunicador selecionou os 23 nomes que compõem a programação, entre eles Stella Maria Rodrigues, Fernando Philbert, Hugo Bonemer, Orlando Caldeira, Cássia Raquel, Caio Bucker, Daniel Herz, Tadeu Aguiar, Leonardo Netto, Aline Deluna, Clarice Niskier, Dandara Vidal, Alessandra Verney, Adriano Garib, Felipe Cabral e Gustavo Pinheiro, entre outros.

“Na escalação, busquei diversidade. Autores, atores, dramaturgos, produtores, alguém de teatro musical, alguém do alternativo, um produtor jovem, outro veterano, gente que só trabalha com patrocínio, gente que nunca teve patrocínio, gente ligada às políticas culturais do Estado do Rio de Janeiro, nomes representativos da Baixada Fluminense, transexuais, homens, mulheres, brancos e negros”.

“A maioria dos entrevistados acabou sendo de homens porque muitas mulheres que convidamos não tinham agenda para gravação ou não estavam saindo de casa por conta da pandemia. Sobre novas temporadas, com certeza virão, nem que eu faça na raça, como quando comecei em 2016. Para falar de teatro, o assunto é inesgotável”.

A expectativa é que o projeto atinja não somente à bolha de consumidores de teatro, mas também a pessoas de fora do universo teatral, podendo, assim atingir outros patamares e talvez chegar a outros Estados para apresentar também outras formas de conexão com a plateia.

“Estou buscando parcerias para viabilizar o projeto em âmbito nacional. Na #INCITARTE, há um editorial chamado Teatro pelo Brasil onde convido jornalistas e dramaturgos para falarem sobre o teatro de suas cidades. Fui convidado para registrar o trabalho da companhia Santa Ignorância, em São Luís do Maranhão e fiquei impressionado como eles têm status de celebridade. Lotam os 750 lugares do majestoso teatro Arthur Azevedo, com sessão extra e gente de fora triste porque não conseguiu entrar. O teatro brasileiro precisa observar e analisar esses movimentos para entender onde se cria essa conexão com o público”, acredita.

Mas a ideia de começar pelo Rio de Janeiro não foi apenas pela proximidade geográfica, mas também porque, para Góes, o mercado cultural carioca vive há anos uma situação difícil com competição difícil de bater.

“A praia e o boteco são concorrentes reais. O paulistano é infinitamente mais teatral que o carioca. Em São Paulo, há público para todo tipo de teatro. No Rio, antes da pandemia, assisti espetáculos que tinham mais gente no palco do que na plateia. Ia ao teatro cinco vezes por semana e via 20% ou 30% dos teatros ocupados. Ou seja, teoricamente, as restrições impostas pela pandemia não prejudicam o teatro porque dá pra espalhar o público pelas salas com distanciamento seguro, mas as pessoas têm medo de ficar numa sala fechada com ar condicionado”.

“Sobre outros mercados, se eu for comparar o Rio com Londres, Nova Iorque ou Buenos Aires, no quesito formação de plateia, é vergonhoso. Claro que não temos o dinheiro dos americanos, mas a Broadway também não tem Lei Rouanet. E em Buenos Aires, que tem uma moeda mais desvalorizada que o real, o teatro vive e pulsa de segunda a segunda, de público e de diversidade nos palcos. Para além das revistas da Avenida Corrientes, a cena alternativa portenha é riquíssima. E nós, onde nos distanciamos do público?”, questiona.

Gravado com antecedência, o talk show virtual Olhar pra Frente estreia nesta sexta-feira, 12, com transmissão gratuita no canal oficial da plataforma Quero Teatro no Youtube, e disponibilizado em versão compacta nas redes oficiais da startup. As exibições acontecem até o dia 26.

Notícias relacionadas