Muito antes do isolamento social causado pela pandemia do novo COVID-19 (Coronavírus) inflar as redes sociais com uma gama excessiva de conteúdo produzida por atores, músicos e artistas de todas as áreas, Lívia La Gatto já construía sólido reinado virtual com os vídeos de Consuelo #DicaBoa, espécie de conselheira do cotidiano criada para dar vazão aos pensamentos da atriz referente às manchetes do noticiário diário.
Embora nunca tenha concretizado o plano de levar a conselheira fictícia para o palco (e tenha se tornado presença bissexta em cena), La Gatto é atriz formada e tarimbada pelo tablado, o que lhe garante segurança para, por exemplo, usar de um dos clássicos da obra de Dorival Caymmi (1914-2008) para tecer críticas ao governo de Jair Messias Bolsonaro (Sem Partido).
Historicamente alinhado aos pensamentos defendidos pelo governo do ex-deputado federal, Caymmi talvez não visse com bons olhos o uso de seu samba O Que é que a Baiana Tem?, lançado por Carmen Miranda (1909-1955) em 1939, para tecer críticas ao governo na paródia E Daí, quer que eu Faça o Que?, assinada por Lagatto. E é aí que mora a sagacidade da atriz.
Ao usar do samba sincopado, a atriz (acompanhada pela – boa – voz de seu solitário violão) traça paralelos e eleva a letra a crítica mordaz à declaração do presidente quando questionado sobre o crescimento de mortes por COVID-19. Na letra, La Gatto é cirúrgica ao verter versos como “Quando você se requebrar, caia por cima de mim” para “Quando você se infectar, fique bem longe de mim”.
Essa é a segunda investida de La Gatto no gênero da paródia crítica. Em janeiro de 2019, a artista já havia criticado o governo do então recém-eleito Presidente da República com uma versão de Águas de Março, de Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes.
Confira abaixo o vídeo com a paródia de Dorival Caymmi postado nas redes da atriz.
