Sai de cena aos 88 anos Chica Xavier, atriz que criou solo para a formação do teatro negro moderno

Chica Xavier - Foto: Divulgação

Referenciar Chica Xavier como uma das primeiras artistas negras a quebrar o parâmetro de branquitude do Theatro Municipal do Rio de Janeiro em meados da década de 1960 já seria suficiente para que a atriz fosse empossada no pódio como um dos nomes essenciais para o teatro nacional.

Contudo, o currículo da artista, que saiu de cena na madrugada deste sábado, 08, aos 88 anos de idade, vítima de um câncer, abrange uma importância ainda mais perene para a modernização do teatro nacional e, principalmente, a valorização da dramaturgia negra.

Embora tenha se tornado figura bissexta nos palcos a partir do final da década de 1980, quando colecionava participações em novelas e séries como Tenda dos Milagres (1985), Sinhá Moça (1986), Fera Radical (1988) e Lua Cheia de Amor (1990), e papéis em filmes como A Deusa Negra (1978) e Inocência (1983), Xavier foi figura essencial para a modernização do teatro brasileiro, principalmente por lutar pela disseminação da dramaturgia negra que, antes da década de 1990, ainda padecia de nomes de reconhecimento dentro do cenário do mainstream cultural do Brasil.

De volta a Salvador, na Bahia, de onde saiu para tentar carreira no Rio de Janeiro, Xavier formou grupos de estudo e, incentivada por Antônio Pitanga, montou obras como O Escravocrata, de Arthur Azevedo (1855-1908) e A Mãe, de José de Alencar (1829-1877), para estudar a figura do negro na dramaturgia nacional.

Desde que entrou em cena na montagem de Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes (1913-1980), Xavier foi figura de levante pela voz do negro na dramaturgia e nas artes cênicas do Brasil, firmando caminho, ao lado de colegas como Ruth de Souza (1921-2019), Antônio Pitanga, Zózimo Bulbul (1937-2013) e Zezé Motta para novas frentes de artistas negros no teatro, que culminaria em uma nova frente de dramaturgos com nomes como Maria Shu, Dionne Carlos, Grace Passô e Aldir Anunciação, além de grupos, companhias, coletivos, diretores e profissionais que, graças aos passos de Xavier, tiveram régua e compasso para solidificar uma linguagem do teatro negro nacional.

Notícias relacionadas