Teatro filmado vira realidade e pode ajudar a pautar futura relação do público com a arte

Incêndios - Foto: Divulgação

Processo até então impensável antes da pandemia gerada pelo COVID-19 (Coronavírus), que impulsionou necessidade de isolamento social de prevenção  combate à curva de contaminações do novo vírus, a disponibilização da filmagem de espetáculos teatrais na íntegra (e de forma gratuita) se tornou uma realidade na comunidade teatral ocidental.

Espetáculos que tiveram carreira na Broadway estão disponíveis online no Youtube, em contas abertas para quem quiser assistir, do mesmo modo, produções brasileiras, antes conhecidas como “proibidões” nos fóruns e comunidades de teatro musical, chegaram à rede sem constrangimentos ou protestos de produtores e profissionais envolvidos nas montagens.

Embora seja ainda cedo para cravar qualquer afirmação definitiva, o passo dado pelo cengrafsta e diretor de montagem Eduardo Chamon, criador do site Espetáculos Online, deixa claro que há uma movimentação importante no processo de acesso ao teatro. É verdade inconteste que a experiência do teatro in loco, físico, presencial, não é substituível, e as gravações não são mais do que opções temporárias durante o período de isolamento social.

Mas não se pode deixar de salientar que, ao estarem disponíveis de forma gratuita, uma gama de espetáculos se tornarão acessíveis ao público em geral que, impossibilitado de sair de casa e desinteressado do noticiário diário e do (excessivo) conteúdo produzido diariamente para a rede, talvez busque um novo meio de entretenimento para os dias de confinamento, e ao se deparar com obras como Incêndios, Maria do Caritó e Os Vilões de Shakespeare, protagonizados, respectivamente, por Marieta Severo, Lília Cabral e Marcelo Serrado, encontre um novo passatempo. Todos os títulos citados, inclusive, estão disponíveis no site de Chamon.

Outro ponto importante a se notar é que, diferente do que pregam os puristas, o teatro filmado não apenas não substitui a experiência ao vivo, como também serve como um meio de memória e divulgação de obras que podem inspirar não apenas novas produções, como o anseio do público de vê-las ao vivo, sedentos pelo retorno ao convívio social.

Tudo não passa de uma grande elucubração, mas é sabido que, tendo pleno conhecimento do que vai assistir, o público consome com maior interesse obras de arte, sejam elas filmes, novelas, discos ou mesmo peças de teatro (caso o contrário, o que explicaria a fissura do brasileiro com os spoilers dos capítulos das novelas?). Assim, desta forma, cria-se o hábito e a proximidade da plateia com a linguagem teatral e, ao menos por agora, permite que as peças sejam assistidas com a liberdade que as novelas permitem.

Se a ação renderá, de fato, frutos ao teatro enquanto mercado, só o tempo dirá, mas apenas o fato de um passo ser dado neste momento e nesta conjuntura específica, já mostra que o teatro terá uma sobrevida, mesmo que ainda não tenha encontrado formas de monetizar este conteúdo. Um segundo passo que precisa ser pensado com urgência não apenas pela sobrevivência da classe, mas também para que se dê em breve um segundo passo: o de ensinar o público a pagar para consumir obras de arte.

Notícias relacionadas