Driblando irregularidades da matriz, Pacto se impõe graças a afinação de elenco e direção

Pacto - A História de Leopold e Loeb | Foto: Caio Gallucci

A premissa da dúvida se a história de um crime cometido a sangue frio na Chicago da década de 1920 poderia render um bom musical foi um dos pilares da divulgação de Pacto – A História de Leopold & Loeb, musical dirigido por Zé Henrique de Paula que cumpriu concorrida temporada em 2018, em São Paulo.

A verdade é que não, a história dos assassinos Nathan Leopold e Richard Loeb que, após alguns pequenos delitos, decidem assassinar um jovem garoto de 14 anos de idade, escolhido a esmo, não tem a mesma força, por exemplo, de Chicago, musical de Bob Fosse, John Kander e Fred Ebb que traz uma temática parecida: um crime cometido a sangue frio na Chicago da mesma época.

E muito do problema estão nas músicas do norte americano Stephen Dolginoff, que não estão, como na história de Velma Kelly e Roxie Hart, a altura da história de Leopold e Loeb, a dupla de jovens assassinos que se acreditavam acima das leis graças a uma interpretação equivocada da obra do filósofo alemã Friedrich Nietzsche.

É, portanto, impressionante o trabalho em cartaz as quartas e quintas no Teatro Opus, no Shopping Villa-Lobos, na zona oeste da capital. Em Pacto – A História de Leopold & Loeb a dupla de atores Leandro Luna e André Loddi e o diretor Zé Henrique de Paula injetam vigor que faz da versão brasileira um espetáculo maior do que a obra original de Doliginoff faz supor.

Luna, na pele de Leopold, constrói personagem crível que cresce no final comprovando um excelente jogo dúbio construído pelo ator, que cresce na caracterização de sua personagem mais velha, mas também extrai bons momentos da versão jovem de seu Leopold que após 30 anos de prisão, confessa as motivações do crime em busca de liberdade condicional.

Já Loddi angaria no espetáculo um dos melhores desempenhos de sua carreira em musicais. Na pele do sociopata Richard Loeb o ator constrói com minucia tanto os trejeitos quanto a modulação de voz de uma interpretação baseada no olhar.

Mérito também da direção minuciosa de Zé Henrique de Paula. O diretor, ao lado da preparadora Inês Aranha, conduz a dupla de atores por quadros nada óbvios, e triunfa ao focar a encenação no trabalho da dupla, que, valorizados pela (ótima) luz assinada por Fran Barros e pelo cenário funcional assinado pelo próprio diretor. A direção musical de Guilherme Terra faz o que pode frente ao fraco material original, mas consegue extrair bons momentos para sublinhar as tensões deste thriller musical que, sem as canções, sem dúvidas renderia ainda mais.

Contudo, a despeito de qualquer irregularidade da matriz, Pacto triunfa justamente por deixar de lado o que menos importa (a música) dando enfoque principal naquilo que de fato sustenta este musical (elenco e texto) de dramaturgia sólida e elenco irrepreensível, sob uma direção afinada com as necessidades de um espetáculo construído de forma artesanal.

SERVIÇO:

Pacto- A História de Leopold & Loeb

Data: 03 de julho a 01 de agosto (quartas e quintas)

Local: Teatro Opus – São Paulo (SP)

Endereço: Av. das Nações Unidas, 4777 – Shopping Villa Lobos – Alto de Pinheiros

Horário: 21h

Preço do ingresso: R$ 70,00

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