Prestes a estrear temporada online de solo sobre liberdades, Chico Diaz aventa retorno massivo do público ao teatro

A Lua vem da Ásia | Foto: Pedro Lamare

Em 2011, o ator, diretor e roteirista Chico Diaz deu uma pausa nas sucessivas e bem sucedidas temporadas do épico Moby Dick, encenação de Aderbal Freire Filho com base no clássico romance homônimo de Herman Melville (1819-1891) para se debruçar sobre a história de um homem que, hospedado em um hotel de luxo (ou em um manicômio; ou em um campo de concentração) reflete sobre alguns dos temas que norteiam a sociedade ao longo dos séculos.

A obtenção de grandes poderes, a loucura, a corrupção, a liberdade e a prisão entram em debate em A Lua vem da Ásia, solo que, há 10 anos, Diaz apresenta em temporadas e turnês ao redor do Brasil e em países como Portugal. 

Assinada pelo ator, a adaptação do livro homônimo do mineiro Walter Campos de Carvalho (1926-1998) chega a partir deste domingo, 28, ao universo online dentro da programação digital do Teatro PetraGold, no Rio de Janeiro levando Diaz a enfrentar desafios artísticos que, até a instauração da quarentena de combate a pandemia do coronavírus, não se imaginava enfrentando.

“Não tinha o menor interesse por essa linguagem virtual”, revela o artista que, em meados de dezembro de 2020, dentro do projeto #EmCasacomoSesc, da rede Sesc São Paulo, já havia feito o primeiro experimento de uma adaptação digital para o solo em que dá vida este homem que contesta a lucidez e os conceitos de liberdade e prisão da sociedade moderna.

“Esse é um texto escrito em 1956 e que, curiosamente e oportunamente, já falava de um confinamento de um ser que precisa estruturar sua narrativa para sobreviver. Quando vi, no ano passado, que estaríamos confinados, vi que ele cairia bem em tempos pandêmicos e abriria possibilidades”, conta o autor que, com a obra ainda prepara uma apresentação para o Festival de Almada, em Portugal.

“Em toda essa reestruturação, preparei um produto novo, mais leve. É a adaptação da adaptação que antes tinha uma hora e meia e agora está mais conciso para se adaptar a esse ambiente online sabendo que a mensagem que rege, que chega ao espectador, chegará também pelas câmeras. É uma entrega diferente, o olho no olho não existe, o microfone leva a minha voz, mas ainda é potente”.

Estas diferenças, de acordo com Diaz, também configuram perdas e ganhos para este formato. “A principal defasagem é a presença do público, a possibilidade do erro, o risco, a emoção sem filtros, que é algo que atinge mais potentemente quem está assistindo, e você fazer sem a respiração da plateia dá outra dinâmica”.

“Mas o principal ganho é a possibilidade de se comunicar nestes tempos, é manter a coisa intacta, é manter o teatro respirando, é ter a reflexão que o teatro traz. Existem plataformas, como essa, que alteram três câmeras para o público ver em diferentes ângulos da cena, isso, para mim, é um ganho”.

Embora apto a se comunicar por esta nova ferramenta, Diaz garante que, num cenário mais estável e com a possibilidade do retorno aos teatros, não pretende seguir nesta experimentação. “A minha curiosidade como artista não é explorar essas ferramentas, não. O conteúdo me interessa mais que o veículo. Vou continuar pensando em textos, buscando assuntos que sejam bons para a sociedade, mas não explorando ferramentas”.

O ator, contudo, acredita que, ao final deste cenário, os teatros serão reabertos com uma adesão de um público saudoso. “Quando passar a pandemia as pessoas vão ao teatro com muita saudade, com muito amor. Acho, claro, que a gente ganhou a plataforma de linguagem, mas, no fim das contas, nós estamos com saudade de nós”.

A Lua vem da Ásia cumpre temporada online a partir de hoje, 28, e segue em cartaz todos os domingos até o dia 18 de abril, sempre às 18h. O espetáculo é transmitido ao vivo diretamente do Teatro PetraGold, no Leblon, e os ingressos custam R$ 20,00.

Notícias relacionadas