Arlindo Lopes busca poesia na dor ao descortinar pensamentos de Leonilson em solo delicado

Leonilson Todos os Rios Levam à sua Boca - Foto: Divulgação

Ator que sempre injetou delicadeza poética nas personagens que defendeu ao longo de mais de 20 anos de trajetória artística, fosse em obras de teor mais denso (Laranja Mecânica, de 2002), fosse em obras de leveza existencial (Ensina-me a Viver, 2007), Arlindo Lopes ainda não havia explorado com tamanha profundidade as dores e delícias de um solo dramático como em Leonilson (Todos os Rios Levam à sua Boca).

Na obra, o ator dá vida ao pintor, desenhista e escultor cearense José Leonilson Bezerra Dias (1957-1993) por meio de pensamentos e passagens biográficas do artista que ficou conhecido na década de 1980 pelo caráter altamente biográfico de sua obra.

Atormentado com sua sexualidade em um momento de avanço epidêmico da AIDS, Leonilson trataria em sua obra justamente as dificuldades de se assumir homossexual em um país religioso e retrógrado que, com o desconhecimento acerca e doenças sexualmente transmissíveis, transformaria a comunidade LGBT em principal alvo do preconceito acerca do males causados pela doença.

É baseado nesta dor e desconforto que Arlindo Lopes busca extrair alguma poesia dos escritos do artista em solo dirigido por Marina Vianna e com roteiro costurado pelo próprio ator. Na obra, a personagem surge numa série de reflexões sobre sua vida e trajetória abrindo espaço para relatar os temores, desejos e referências de um artista que, já no fim da vida, ressoou atormentado pelo tratamento da sociedade às pessoas portadoras do vírus HIV.

O tom da direção de Vianna dá ao espetáculo caráter quase lúdico – impressão reforçada pelo (bonito) cenário de Alice Cruz e pela excelente luz do mago Paulo César Medeiros – e triunfa principalmente pela interpretação delicada de Lopes, que foge a arroubos interpretativos, e pelo caráter enxuto e dinâmico da encenação.

Ao assumir a duração de pouco mais de 35 minutos, Leonilson (Todos os Rios Levam à sua Boca), que realiza sua última sessão hoje, 26, dentro da programação do projeto Teatro Já!, do Teatro PetraGold, foge ao caráter enfadonho que, geralmente, solos do gênero costumam assumir ao se exceder em dramaturgias pretensamente poéticas  e monocórdias.

O caráter enxuto auxilia principalmente no aprofundamento de questões primordiais para a vida e a obra de José Leonilson Bezerra Dias, artista de tormentos e pensamentos tão doídos quanto poéticos, explorados no tempo da delicadeza cênica em Leonilson (Todos os Rios Levam à sua Boca).

SERVIÇO:

Leonilson (Todos os Rios Levam à sua Boca) – Teatro Já!

Data: 04 a 26 de agosto (terças e quartas-feiras)

Local: Zoom – Teatro PetraGold

Horário: 17h

Preço do ingresso: R$ 10,00

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