Embate de Chris Couto e Karin Rodrigues sustenta drama familiar esmaecido por desencontro entre dramaturgia e encenação

Para Duas - Foto: Divulgação

A conjuntura familiar e suas fricções, como o acerto de contas entre entes próximos, o surgimento de um parente há muito desaparecido ou um segredo de família escondido, geralmente funcionam como pratos cheios para a produção dramatúrgica desde os primórdios do teatro moderno.

Em Para Duas, peça escrita por Ed Anderson para Karin Rodrigues e Chris Couto, dirigida por Elias Andreato, a relação de mãe e filha entra em perspectiva com o retorno da mãe que abandonou o lar quando mais moça e, tomada por um arrependimento de décadas, decide procurar a filha para tentar reconectar o laços desfeitos na partida.

Em cartaz até hoje, 19, com transmissão ao vivo no perfil oficial da produtora Nosso Cultural no Facebook diretamente do palco do Teatro Cacilda Becker, na Lapa, Para Duas é drama sobre uma relação deteriorada que vai se reconstruindo a medida que a dramaturgia de Anderson propõe um jogo teatral entre passado e presente.

Na obra, Karin Rodrigues e Chris Couto entram em cena numa peça que se pretende mais ambiciosa do que de fato é. Embora não seja o melhor título da obra do dramaturgo baiano, Para Duas tira a má impressão deixada pelo trabalho anterior do artista, o drama opaco Piso Molhado, e evolui na proposta dramatúrgica que, é bem verdade, não se alinha à proposta de encenação de Elias Andreato.

Enquanto o diretor tenta percorrer caminhos ligados ao realismo de obras clássicas, a dramaturgia busca explorar uma construção que flerta com o absurdo farsesco e que nunca é verdadeiramente exposta em cena, desde os figurinos e a cenografia (assinados por Fábio Namatame) até a presença subaproveitada de Cláudio Curi, pouco à vontade na personagem do homem que busca um acerto de contas com a mulher que o abandonou já no quadro final do espetáculo. 

A (ambiciosa) premissa do texto não se concretiza, resultando em espetáculo protocolar que resvala na relevância graças ao bom jogo entre Couto e Rodrigues. As atrizes driblam as eventuais irregularidades da encenação para entregar embate cênico que brinca com os tons absurdos propostos pelo texto e encontram profundidade na relação de mãe e filha, driblando irregularidades do desencontro entre dramaturgia e encenação.

SERVIÇO

Para Duas

Data: 29 de agosto a 19 de setembro (sábados)

Local: Teatro Cacilda Becker – São Paulo (SP)

Em transmissão pelo perfil oficial da produtora Nosso Cultural

Horário: 21h

Preço do ingresso: Grátis.

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