Sem medo do teatro filmado, Fôlego ganha relevância ao apontar refletor para Priscila Paes

Fôlego | Foto: Heloísa Bortz

É sintomático que Born to Run, solo escrito pelo dramaturgo escocês Gary McNair e encenado originalmente em 2012, ganhe em sua primeira montagem brasileira o título de Fôlego. Ainda que a obra se alinhe com perfeição ao título dado em sua versão brasileira pela atriz (que assina a tradução) Priscila Paes, a obra é também um dos trabalhos de mais fôlego da artista, e a posiciona com destaque no circuito comercial e da crítica.

Sob a direção de Kiko Rieser, a obra chegou ao universo online no último sábado, 01, com transmissão dentro do site Plataforma Teatro, de Cristina Cavalcanti, e, não houvesse a pandemia do Coronavírus congelado o mercado cultural e jogado parte da crítica e dos corpos de júri de prêmios teatrais num quase ostracismo geral, seria forte o bastante para posicionar a artista pela disputa a indicações nas categorias de Melhor Atriz.

Enfocando uma mulher que se descobre epiléptica e acha na corrida uma rotina para controlar as crises e convulsões de forma paliativa, Fôlego não é obra que busca desmantelar com os dogmas da dramaturgia clássica em prol de uma nova linguagem contemporânea. Ao contrário, o texto de McNair (traduzido com fluidez pela atriz) é construído como um solo clássico.

Em cena, Paes dá vida a Jane, que, em menos de uma hora, narra detalhadamente sua rotina, descobertas e a vida que leva com marido e filho pequeno, expondo os medos e inseguranças que a doença lhe causa.

Ainda que a dramaturgia de McNair seja construída de forma quase letárgica, Paes valoriza a personagem em interpretação que foge ao comodismo. A direção de Rieser pouco faz em relação à condução da história da personagem, tendo como foco a relação que a atriz desenvolve com o (ótimo) desenho de Aline Santini e com o figurino de Kleber Montanheiro.

A beleza plástica de Fôlego é o ponto alto da encenação que, embora esteja longe da irregularidade, percorre caminhos excessivamente seguros, remetendo a um típico teatro britânico pouco afeito a arroubos inovadores.

A obra, contudo, aposta no tripé básico de texto-direção-atuação e, dentro do universo online, promove boa experiência ao fugir de pirotecnias tecnológicas que, não raro, embaçam belezas e possibilidades de espetáculos produzidos para o formato. Sem se privar da linguagem do teatro filmado, a obra cativa.

Com final anticlimático, Fôlego é obra menos ambiciosa do que sua premissa faz supor, e cresce graças à beleza plástica, resultando em espetáculo morno que se torna relevante por apontar a luz do refletor para Priscila Paes, boa atriz que merece mais atenção dentro do circuito teatral paulistano.

SERVIÇO:

Data: 01 a 16 de maio (sábados e domingos)

Local: Plataforma Teatro

Transmissão através do canal oficial do site no YouTube

Horário: 20h

Preço do ingresso: Grátis

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