Tom folhetinesco empalidece força dramática de Master Class

Master Class | Foto: Divulgacao

Encenada originalmente em 1995 na Broadway, a peça Master Class se celebrizou imediatamente como uma das melhores peças de seu autor, o clássico dramaturgo norte americano Terrence McNally, autor de alguns dos maiores sucessos da Broadway, entre eles O Beijo da Mulher Aranha, Ragtime, It’s Only a Play e The Rink, entre outros.

Montada no Brasil um ano após sua estreia nos Estados Unidos, a obra contou com a direção de Jorge Takla e uma das interpretações mais festejadas e Marília Pêra que, na época, se entrelaçava cenicamente pela primeira vez com Maria Callas, figura que viria a acompanhá-la nos 20 anos seguintes até sua morte, em 2015.

Pois foi justamente em 2015 que a primeira remontagem do espetáculo estreou no Brasil, inspirado justamente pelo revival na Broadway que, um ano antes, fizera um estrondoso sucesso encabeçado pela atriz Tyne Daly.

Nesta nova montagem tupiniquim, a atriz Christiane Torloni assumiu o papel da icônica e mítica cantora de ópera, que ministra, em meados da década de 70, aulas magnas na Julliard School, em Nova York. Sob a direção de José Possi Neto, o espetáculo, que teve temporadas ainda em 2016 e, eventualmente, retornou para apresentações esporádicas ao longo dos anos, retorna agora para uma nova turnê, que passou por São Paulo neste último fim de semana, e segue para outras cidadess ao longo dos próximos meses.

Na nova montagem, que cumpriu curta temporada no Teatro Procópio Ferreira, Possi Neto optou por uma encenação de tons folhetinescos e didáticos, buscando, de forma simplória, explicar para a plateia quem foi Maria Callas (com o auxilio de um longo vídeo biográfico na abertura da peça).

Na pele da maior voz do século XX, Christiane Torloni entrega uma interpretação que não a tira de uma insuspeita zona de conforto. Declamando o texto sem buscar um tom de naturalidade, Torloni aos poucos até consegue se adequar a proposta de Possi, mas, mesmo quatro anos após a estreia, ainda parece pouco à vontade na pele da personagem.

Cenário e figurino (assinados por Renato Theobaldo e Fabio Namatame & Claudeteedeca, respectivamente) adornam bem a encenação, que conta um com elenco formado ainda por uma carismática Laura Duarte, um engraçado Rodrigo Filgueiras, um luminoso Fred Silveira (em participação especial excepcionalmente na temporada paulistana) e uma pouco à vontade Raquel Paulin (alternando o papel com Juliana Daud).

A despeito de uma boa ficha criativa, a encenação dirigida por Possi sublinha até mesmo irregularidades do texto original, (bem) traduzido por Bianca Tadini e Juliano Andrey num espetáculo que, sim, conta com o magnetismo de Torloni que conhece bem seu tamanho em cena, mas se fia mesmo é pela excelência da obra de Terrence McNally que, mesmo frente a investidas irregulares, sobrevive bem ao tempo.

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