Ao entrar no The Voice, Marya Bravo expande alcance de voz tamanha e mutante

Marya Bravo no programa The Voice interpretando "Travessia", de Milton Nascimento | Foto: Rede Globo | Divulgação

A entrada da cantora e atriz Marya Bravo no programa The Voice, da Rede Globo, pode ter significado para o grande público apenas mais uma (grande) voz a ecoar no time de Carlinhos Brown na competição semanal. Entretanto, para o teatro musical, Bravo representa mais do que uma cantora talentosa.

A artista é uma das figuras mais atuantes no mercado desde meados da década de 2000. Seu currículo dentro do teatro musical carioca não apenas lhe dá cacife para figurar no panteão dos grandes nomes do gênero, como também lhe coloca em situação delicada frente a outros competidores.

A artista já se debruçou sobre obras de nomes como Stephen Sondheim, Burt Bacharach, Rodgers e Hammerstein, Chico Buarque de Hollanda, Milton Nascimento e até Rita Lee ao compor o elenco de espetáculos musicais dirigidos, em sua maioria, pela dupla Charles Möeller e Claudio Botelho, dois dos principais nomes do mercado.

A atuação de Bravo no mercado é tão forte que a artista ganhou papel escrito sob medida em 7 – O Musical, primeira incursão do músico Ed Motta pela seara teatral, com texto e letras escritas pela dupla Möeller e Botelho, e uma das tentativas mais importantes de experimentação rumo a uma linguagem própria para o teatro musical tupiniquim no novo milênio.

Contudo, a entrada de Bravo no programa de apelo nacional é ainda mais significativo ao dar caminhos para a expansão do alcance da voz forte e mutante desta artista, que, em carreira solo, já foi backing vocal de Marisa Monte em turnê mundial de suas Memórias, Crônicas e Declarações de Amor, e lançou três álbuns de estúdio, dois editados pelo selo Jóia Moderna, comandado pelo DJ Zé Pedro. 

O primeiro, Água Demais por Ti, teve como foco as composições autorais de uma artista moldada na pegada do rock. Entre os temas, destaca-se o clássico instantâneo Cólera, que apresentou cantora segura de si com fé em sua própria poesia.

Tal segurança levou Bravo a percorrer caminhos perigosos ao abordar a (excelente) obra criada pelo compositor Zé Rodrix (1947-2009), que, por pura coincidência, é também seu pai. O álbum De Pai pra Filha figura como um dos melhores álbuns da década passada, e posicionou Bravo no primeiro time de intérpretes da música popular.

O terceiro e (por hora) último disco da discografia espaçada da artista, Comportamento Geral, apontou o refletor para canções de protesto compostas e gravadas sob o regime duro da Ditadura Militar brasileira, entre 1964 e 1986.

Se bem aproveitada no diverso time de Brown, Marya Bravo tem a chance de expandir os caminhos a serem percorridos por seu vozeirão afinado à fina flor da música popular brasileira e norte americana. O mercado fonográfico é outro e, embora ainda siga os moldes falidos da recessão das décadas de 1980 e 1990, ainda tem espaço para assimilar o talento mutante de Marya Bravo como uma de suas principais e mais importantes cantoras de ponta.

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