No aniversário de 50 anos de Fernanda Young, listamos cinco de seus livros que poderiam ser adaptados para o teatro

Fernanda Young - Foto: Divulgação

Não tivesse saído abruptamente de cena em agosto de 2019, vítima de uma crise de asma, Fernanda Young completaria hoje meio século de vida. Com passagem bissexta pelo teatro como atriz e dramaturga, Young não apenas retornaria aos palcos – encerrando um hiato de 11 anos, com a encenação de Ainda Nada de Novo, de Carlos Canhameiro, sob a direção de José Roberto Jardim -, como também voltaria a escrever para o tablado, adaptando seu livro de ensaios Pós-F – Para Além do Feminino e Masculino (vencedor de um Prêmio Jabuti póstumo) em produção ainda de pé, e que será protagonizada por Maria Ribeiro sob a direção de Mika Lins.

Diretamente para a cen, Young escreveu apenas A Ideia, monólogo dadaísta que protagonizou em 2008 sob a direção de Alexandre Reinecke que seguiu carreira protagonizado por Márcia Cabrita (1964-2017). Autora de uma obra editorial de revolução contemporânea, Young criou arcos históricos facilmente adaptáveis para o teatro – como mostrou a encenação de Vergonha dos Pés, baseado em seu primeiro livro homônimo, estrelada por Priscila Fantin e Danton Mello.

Em homenagem ao meio século de vida qe Young comemoraria neste 1 de maio, confira abaixo uma seleção de cinco livros da autora que poderiam ganhar boas adaptações teatrais:

1- O Pau (2009)

Lançado em 2009, o romance versava sobre vingança, traição, a crise da idade e o olhar cruel da sociedade para uma mulher envelhecendo. Na obra, a designer de jóias Adriana descobre que está sendo traída por seu namorado, 14 anos mais jovem. Desesperada e arrependida do relacionamento, arquiteta uma vingança psicologicamente cruel. A personagem decide “castrar” seu ex-amante com sessões de tortura relacionadas ao seu órgão sexual, fazendo com que ele fique impotente e em cárcere. Guardadas as devidas proporções não seria equivocado afirmar que a narrativa bebe da fonte de “Misery”, livro de Stephen King adaptado para os cinemas e para o teatro – no Brasil, a peça ganhou montagem em 2001 com protagonizada por Marisa Orth e Luiz Gustavo.

2- Tudo que Você não Soube (2007)

Publicado em 2007, o livro está no arco dos melhores títulos da bibliografia de Young, e é uma espécie de diário confessional no qual a escritora cria uma personagem sem nome que escreve uma carta extensa para seu pai, moribundo e com vestígios de senilidade. A personagem, uma punk que se localiza no início dos anos 80 onde “você se tornava um babaca ou um doidão” acertou a cabeça da própria mãe com um martelo, e agora realiza um ajuste de contas com o pai com um desfecho decisivo dado justamente nas primeiras páginas: “não quero que meu pai morra pensando que eu sou uma babaca, quando na verdade fui uma doidona”.

3- A Sombra as Vossas Asas (1997)

A história do fotógrafo Rigel daria uma clássica peça sobre um amor fracassado e o processo de separação. Nesta obra, Young analisa a construção de uma relação nascida da sordidez e diluída com o passar do tempo. A aspirante a modelo Carina entra na vida de Rigel como um rolo compressor capaz de destruir qualquer esperança. Um dueto de casais destrutivos é, inclusive, o que alimenta boa parte da dramaturgia ocidental, de Edward Albee (1928-2016), Eugene O’Neill (1888-1953), Noël Coward (1899-1973) e Tennessee Williams (1911-1983) a Plínio Marcos (1935-1999), Nelson Rodrigues (1912-1980), Maria Adelaide Amaral e Nicky Silver.

4- A Louca Debaixo do Branco (2012)

Nada mais clássicos do que  figura mítica de uma noiva que repensa a instituição do casamento. Neste que, plasticamente, é seu livro mais ambicioso (e sedutor),Young investiga a fundo através de entrevistas e ensaios a instituição do casamento e a figura da noiva, representada em diferentes fotos produzidas pelos principais fotógrafos de publicidade do país. Nesta obra, a escritora não apenas desconstruiu a linguagem do romance, como também deu voz e vazão a uma série de personagens altamente teatrais.

5- Dores do Amor Romântico (2005)

O primeiro livro de poesias de Fernanda Young analisa o amor, a paixão e a construção (e desconstrução) de romances e relacionamentos. Com uma série de poemas viscerais, Young criou uma linha de pensamento altamente teatral acerca dos altos e baixos de relações e idealizações do ser amado. A adaptação de poemas para o palco é prática antiga, e já rendeu uma série de espetáculos baseados na obra de nomes como Adélia Prado, Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Ferreira Gullar (1930-2016) e Fernando Pessoa (1888-1935), entre outros.

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